Olá a todas(os)
O meu nome é Miguel Trindade, e vim até este fórum por mera curiosidade, pois sou pai de uma bébé linda (A Bruna) que têm 4 meses e meio. E isso leva-me a muitas vezes vir surfar pela net à procura de temas sobre bebés, sobre a sua evolução, o seu crescimento, esclarecimento de duvidas e tantas outras coisas que com certeza vocês também fazem .
Ao visitar este fórum, acabei por esbarrar no tema "Aborto/Perda Gestacional" e li alguns posts sobre este assunto.
Do que vi e analisei, constatei... tristezas, magoas, desesperos, desalentos. Mas também vi pessoas fortes, positivismo e vontade de lutar e vencer.
Embora este post talvez até esteja aqui um pouco fora de contexto, gostaria de contar uma historia e deixar aqui uma mensagem de carinho e de esperança a todas(os) que perderam um filho ou uma filha.
Em Maio de 2007 eu e a minha esposa perdemos a nossa primeira bébé ( a Bárbara) no seu 3.º dia de vida.
Jamais esquecerei que na manha de 2.º feira fui buscar a minha família (mãe e filha) à maternidade, e que passadas algumas horas ela faleceu independentemente de todos os meus esforços e dos esforços do INEM para a reanimar.
Realmente o meu mundo tinha acabado de desabar, eu não queria acreditar e só me restava a esperança que tudo fosse um sonho mau, um pesadelo que iria acabar dentro de momentos.
Infelizmente assim não foi.. passei por vários estados... a descrença, a revolta (primeiro contra deus, depois contra os médicos), a necessidade de encontrar um culpado, a duvida se o culpado fui eu, e por fim o encarar da realidade, depois a tristeza e finalmente o estado em que vivo hoje e que jamais me abandonará que será a eterna saudade.
Obviamente que não me consigo colocar na pele da minha esposa e sentir o que ela sentiu, assim como não me consigo colocar na pele de qualquer outra mulher que tenha perdido uma criança ou um bébe durante a gestação.
Mas sou um pai, como qualquer outro pai ou mãe que perdeu uma filha. Que foi à medicina legal, ao hospital pediátrico e à autoridade policial responder a questões durissimas, a tal ponto que cheguei a questionar-me...Será que eu ou a minha mulher fizemos alguma coisa de mal, será que fomos maus pais, ou incompetentes?
Posso-vos dizer que me senti arrasado por tudo o que estava a acontecer, e frustado por saber que nunca iria ter a minha filha de volta.
Foi também uma altura em que ouvi de tudo...posso-me gabar de ter muitos amigos e muitos conhecidos, e através de todos eles começaram a chegar historias de casais novos e velhos a quem tinha acontecido algo semelhante - "A perca" - quer na fase de gestação quer após o nascimento. Começei então a ver que vizinhos, amigos, pais de amigos, familiares de amigos todos tinham uma historia para contar, uma historia escondida e arrumada no baú do esquecimento mas que vinham partilhar comigo e com a minha mulher.
Também ouvi muitas frases feitas, como "Não estranhes os desígnios de Deus", ou "Todos nós vimos ao mundo com uma missão, não sabemos qual a missão da bárbara, mas a missão dela já foi cumprida”.
Mas um dia houve um ponto de viragem, alguém me segredou que eu devia acreditar que a minha filha estava num sitio bom. Tal como um bébé quando esta na barriga da mãe...ele só conhece aquele ambiente, esta ali quentinho e confortável e julgamos nós que ele não quer dali sair. O nascimento é uma experiência dura para um bébé, mas aquela acção de nascer e chegar ao desconhecido, traz-lhe outro tipo de conforto e carinho. Se acreditarmos em “algo”, pode ser que a nossa partida para outro estado tenha também um destino feliz.
Quero salientar que sou um católico, que raramente vai a uma igreja e ando mais vezes afastado de deus do que junto dele. De igual forma não tenho qualquer associação com qualquer tipo de religião. Mas reconheço que algo bateu no meu coração quando ouvi aquelas palavras. E realmente mais tarde elas vieram a fazer sentido e já vos explicarei porque.
O primeiro passo que eu e a minha mulher demos, foi não aceitar antidepressivos que os médicos já nos queriam impingir.
Disse à médica que primeiro queria tentar lutar sem a ajuda de muletas dessa natureza. E o compromisso foi assumido, comprometendo-nos a recorrer a essa possibilidade caso as coisas não estivessem a melhorar.
Também quero salientar que deixar avançar um depressão é um disparate tremendo, e ao menor indício deve-se recorrer a ajuda médica pois ela também é necessária.
Mas nós graças à excelente família que temos tanto do meu lado como do lado da minha mulher, graças aos excelentes amigos, graças aos excelentes vizinhos, e graças aos excelentes colegas de trabalho fomos vivendo um dia de cada vez, caminhando passo a passo, sempre rodeados de gente que não nos deixava pensar naquilo que nos tinha acontecido.
È óbvio que havia altos e baixos, havia tristeza e lágrimas.
Um dia fomos visitados em casa por um agente da autoridade para nos identificar por ordem do ministério publico.
Ficamos atónitos, e naquele dia soubemos que havia um inquérito referente ao falecimento da nossa querida filha (O que sabemos agora ser um procedimento normal, quando cocorre a morte de uma criança em situações não esclarecidas).
Depois foi o prestar depoimento... mais um abalo... Começamos a pensar que alguém acha que fizemos mal à nossa bébé. E depois também nos começamos a questionar; Será que fizemos algo de errado? será que não a deitamos bem?será que não a deixamos convenientemente virada? Será que lhe devia-mos ter dado mais mama? Será que ela chorou e nós não ouvimos?... será...? Serà...? foi angustiante
Houve então um dia que fomos chamados ao hospital pediátrico para onde a Bárbara foi inicialmente levada pelo INEM.
E lá fomos informados de que desconfiavam que a bárbara tinha falecido devido a um problema decorrente de um eventual defeito genético.
Passaram-se dias, semanas e meses até haver um resultado das análises que solicitaram e que só puderam ser confirmadas no estrangeiro.
Efectivamente a nossa bébé, partiu devido a uma incapacidade de as suas células processarem energia proveniente da alimentação, e essa incapacidade por sua vez foi causada pela presença de um erro genético que tanto eu como a minha esposa somos portadores, embora saudáveis.
Além disso fomos desde logo informados que a probabilidade de ter um filho com a mesma doença seria de 25% em cada gravidez.
Além deste novo soco no estômago, e ainda que a descoberta feita pelos médicos não nos trouxesse de volta aquilo que nós mais queríamos, nem nos tenha apaziguado a dor, tenho de reconhecer que começamos a olha para o futuro de maneira diferente depois de perceber o que na realidade se passou.
Tudo isto se passou há cerca de dois anos.
Como já referi, hoje somos pais de outra linda menina que vai fazer 5 meses brevemente, e estamos super felizes com ela. Nós, toda a nossa família, os nossos amigos e colegas e vizinhos que desde o inicio nos apoiaram.
Foi uma gravidez muito vigiada e cheia de testes, mas tudo correu pelo melhor.
Para concluir, este texto que já vai demasiado longo quero só deixar algumas mensagens.
1.º O nascimento de um filho(a) é realmente um milagre, não tenhamos duvidas disso.
Obviamente que este meu texto não tem qualquer carácter ou fundamento cientifico, mas quem já teve uma perda, se olhar à sua volta verifica que não esta só, infelizmente estas situações são mais comuns do que aquilo que imaginamos, quase toda a gente tem um familiar ou um amigo que passou por isto, ou até terá passado por isto
Também não devemos descurar a possibilidade de haver um problema, e os médicos tem a função de nos ajudar a identificar esse problema e ultrapassa-lo dentro do que lhes é possível.
Já agora, sabiam que todos nós possuímos uma meia dúzia de erros genéticos? E já viram em tantos milhões de pessoas a ínfima probabilidade de eu e a minha esposa termos o mesmo erro acabou por acontecer, apesar de não termos qualquer laço de sangue.
2.º Eu continuo a não ir à igreja e até reconheço que continuo demasiado distante de Deus ou qualquer outra divindade, quem quer que ela seja.
Mas acredito! acredito que há alguma coisa que olha por nós.
Eu não me refugiei na religião, mas tenho a certeza de quem vai buscar apoio na fé, tem a vida muito mais facilitada, acho que terá outro conforto.
Tal como já disse, apesar de ainda estar longe de uma ligação com a religião, eu senti alguma coisa a tocar-me o coração quando ouvi certas palavras.
Pensar que a minha filha possa estar num lugar melhor reconforta-me
Pensar que ela realmente tinha uma missão e que a cumpriu naquele período de 3 dias que esteve comigo e com a milha mulher também me reconforta.
Quem sabe se essa missão não seria avisar-me deste problema que tanto eu como a milha esposa desconhecíamos, e fazer-nos pensar na adopção de crianças ou até mesmo ( e desculpem-me a presunção), escrever este mail e ajudar alguém com isso.
3.º Quem sofre uma perda desta natureza, tem de lutar. O casal tem de se apoiar mutuamente, e ambos tem de se apoiar na família, nos colegas, nos amigos, nos vizinhos. E nunca mas nunca virarem-se para dentro e cortar as ligações com o resto do mundo e achar que só os antidepressivos vão ser a solução.
4.º Muitas vezes até podemos achar que somos culpados de alguma coisa. Mas temos de afastar as ideias negativas das nossas cabeças.
“O culpar-me” não vai resolver absolutamente nada, só produzirá danos em nós próprios.
Ainda esta semana, assistimos a uma situação de grande drama e infelicidade, de um pai que se esqueceu do seu filho no carro, acabando este por falecer.
O meu coração está com este pai e quero aproveitar para lhe deixar uma mensagem de carinho pois ele bem precisará. Obviamente ele foi infeliz, é um problema moral, familiar, conjugal... eu sei lá... uma coisa eu tenho a certeza. A vida deste homem alterou-se, e maior castigo do que ele já teve ninguém lhe vai conseguir dar.
Quantos pais não esqueceram de ir buscar/levar os filhos à escola, ou os deixaram sozinhos perto de uma tomada ou de um fogão ligado, ou deixaram uma criança cair, ou não apertaram o cinto de segurança de forma correcta. Tudo isto é decorrente do ritmo de vida que a própria sociedade nos impõe no dia a dia.
A única diferença e que este pai foi infortunado, enquanto muitos outros pais tiveram a felicidade de não o ser.
5.º Por favor acreditem sempre que são capazes, sejam positivos. Neste fórum vi mensagens óptimas de pessoas que são exemplos vivos dessa determinação... nunca desistem.
Esse é o caminho
A atitude negativa, a comiseração não nos levam a lado nenhum. E já agora vivam e sejam felizes.
A maior lição que eu tirei da perca da minha bébé, foi que tudo se esbate, tudo se diminui à importância de uma grão de pó.
Ódios, amores mal resolvidos, problemas de dinheiro, traições preocupações, mau ambiente no seio da família ou do trabalho ou da comunidade, e tantas outras coisas.
Trocava 1 milhão de problemas desses pelo único problema que eu realmente tenho, que foi uma filha que se foi embora muito cedo, demasiado cedo.
Um abraço a todos
Miguel Trindade
O meu nome é Miguel Trindade, e vim até este fórum por mera curiosidade, pois sou pai de uma bébé linda (A Bruna) que têm 4 meses e meio. E isso leva-me a muitas vezes vir surfar pela net à procura de temas sobre bebés, sobre a sua evolução, o seu crescimento, esclarecimento de duvidas e tantas outras coisas que com certeza vocês também fazem .
Ao visitar este fórum, acabei por esbarrar no tema "Aborto/Perda Gestacional" e li alguns posts sobre este assunto.
Do que vi e analisei, constatei... tristezas, magoas, desesperos, desalentos. Mas também vi pessoas fortes, positivismo e vontade de lutar e vencer.
Embora este post talvez até esteja aqui um pouco fora de contexto, gostaria de contar uma historia e deixar aqui uma mensagem de carinho e de esperança a todas(os) que perderam um filho ou uma filha.
Em Maio de 2007 eu e a minha esposa perdemos a nossa primeira bébé ( a Bárbara) no seu 3.º dia de vida.
Jamais esquecerei que na manha de 2.º feira fui buscar a minha família (mãe e filha) à maternidade, e que passadas algumas horas ela faleceu independentemente de todos os meus esforços e dos esforços do INEM para a reanimar.
Realmente o meu mundo tinha acabado de desabar, eu não queria acreditar e só me restava a esperança que tudo fosse um sonho mau, um pesadelo que iria acabar dentro de momentos.
Infelizmente assim não foi.. passei por vários estados... a descrença, a revolta (primeiro contra deus, depois contra os médicos), a necessidade de encontrar um culpado, a duvida se o culpado fui eu, e por fim o encarar da realidade, depois a tristeza e finalmente o estado em que vivo hoje e que jamais me abandonará que será a eterna saudade.
Obviamente que não me consigo colocar na pele da minha esposa e sentir o que ela sentiu, assim como não me consigo colocar na pele de qualquer outra mulher que tenha perdido uma criança ou um bébe durante a gestação.
Mas sou um pai, como qualquer outro pai ou mãe que perdeu uma filha. Que foi à medicina legal, ao hospital pediátrico e à autoridade policial responder a questões durissimas, a tal ponto que cheguei a questionar-me...Será que eu ou a minha mulher fizemos alguma coisa de mal, será que fomos maus pais, ou incompetentes?
Posso-vos dizer que me senti arrasado por tudo o que estava a acontecer, e frustado por saber que nunca iria ter a minha filha de volta.
Foi também uma altura em que ouvi de tudo...posso-me gabar de ter muitos amigos e muitos conhecidos, e através de todos eles começaram a chegar historias de casais novos e velhos a quem tinha acontecido algo semelhante - "A perca" - quer na fase de gestação quer após o nascimento. Começei então a ver que vizinhos, amigos, pais de amigos, familiares de amigos todos tinham uma historia para contar, uma historia escondida e arrumada no baú do esquecimento mas que vinham partilhar comigo e com a minha mulher.
Também ouvi muitas frases feitas, como "Não estranhes os desígnios de Deus", ou "Todos nós vimos ao mundo com uma missão, não sabemos qual a missão da bárbara, mas a missão dela já foi cumprida”.
Mas um dia houve um ponto de viragem, alguém me segredou que eu devia acreditar que a minha filha estava num sitio bom. Tal como um bébé quando esta na barriga da mãe...ele só conhece aquele ambiente, esta ali quentinho e confortável e julgamos nós que ele não quer dali sair. O nascimento é uma experiência dura para um bébé, mas aquela acção de nascer e chegar ao desconhecido, traz-lhe outro tipo de conforto e carinho. Se acreditarmos em “algo”, pode ser que a nossa partida para outro estado tenha também um destino feliz.
Quero salientar que sou um católico, que raramente vai a uma igreja e ando mais vezes afastado de deus do que junto dele. De igual forma não tenho qualquer associação com qualquer tipo de religião. Mas reconheço que algo bateu no meu coração quando ouvi aquelas palavras. E realmente mais tarde elas vieram a fazer sentido e já vos explicarei porque.
O primeiro passo que eu e a minha mulher demos, foi não aceitar antidepressivos que os médicos já nos queriam impingir.
Disse à médica que primeiro queria tentar lutar sem a ajuda de muletas dessa natureza. E o compromisso foi assumido, comprometendo-nos a recorrer a essa possibilidade caso as coisas não estivessem a melhorar.
Também quero salientar que deixar avançar um depressão é um disparate tremendo, e ao menor indício deve-se recorrer a ajuda médica pois ela também é necessária.
Mas nós graças à excelente família que temos tanto do meu lado como do lado da minha mulher, graças aos excelentes amigos, graças aos excelentes vizinhos, e graças aos excelentes colegas de trabalho fomos vivendo um dia de cada vez, caminhando passo a passo, sempre rodeados de gente que não nos deixava pensar naquilo que nos tinha acontecido.
È óbvio que havia altos e baixos, havia tristeza e lágrimas.
Um dia fomos visitados em casa por um agente da autoridade para nos identificar por ordem do ministério publico.
Ficamos atónitos, e naquele dia soubemos que havia um inquérito referente ao falecimento da nossa querida filha (O que sabemos agora ser um procedimento normal, quando cocorre a morte de uma criança em situações não esclarecidas).
Depois foi o prestar depoimento... mais um abalo... Começamos a pensar que alguém acha que fizemos mal à nossa bébé. E depois também nos começamos a questionar; Será que fizemos algo de errado? será que não a deitamos bem?será que não a deixamos convenientemente virada? Será que lhe devia-mos ter dado mais mama? Será que ela chorou e nós não ouvimos?... será...? Serà...? foi angustiante
Houve então um dia que fomos chamados ao hospital pediátrico para onde a Bárbara foi inicialmente levada pelo INEM.
E lá fomos informados de que desconfiavam que a bárbara tinha falecido devido a um problema decorrente de um eventual defeito genético.
Passaram-se dias, semanas e meses até haver um resultado das análises que solicitaram e que só puderam ser confirmadas no estrangeiro.
Efectivamente a nossa bébé, partiu devido a uma incapacidade de as suas células processarem energia proveniente da alimentação, e essa incapacidade por sua vez foi causada pela presença de um erro genético que tanto eu como a minha esposa somos portadores, embora saudáveis.
Além disso fomos desde logo informados que a probabilidade de ter um filho com a mesma doença seria de 25% em cada gravidez.
Além deste novo soco no estômago, e ainda que a descoberta feita pelos médicos não nos trouxesse de volta aquilo que nós mais queríamos, nem nos tenha apaziguado a dor, tenho de reconhecer que começamos a olha para o futuro de maneira diferente depois de perceber o que na realidade se passou.
Tudo isto se passou há cerca de dois anos.
Como já referi, hoje somos pais de outra linda menina que vai fazer 5 meses brevemente, e estamos super felizes com ela. Nós, toda a nossa família, os nossos amigos e colegas e vizinhos que desde o inicio nos apoiaram.
Foi uma gravidez muito vigiada e cheia de testes, mas tudo correu pelo melhor.
Para concluir, este texto que já vai demasiado longo quero só deixar algumas mensagens.
1.º O nascimento de um filho(a) é realmente um milagre, não tenhamos duvidas disso.
Obviamente que este meu texto não tem qualquer carácter ou fundamento cientifico, mas quem já teve uma perda, se olhar à sua volta verifica que não esta só, infelizmente estas situações são mais comuns do que aquilo que imaginamos, quase toda a gente tem um familiar ou um amigo que passou por isto, ou até terá passado por isto
Também não devemos descurar a possibilidade de haver um problema, e os médicos tem a função de nos ajudar a identificar esse problema e ultrapassa-lo dentro do que lhes é possível.
Já agora, sabiam que todos nós possuímos uma meia dúzia de erros genéticos? E já viram em tantos milhões de pessoas a ínfima probabilidade de eu e a minha esposa termos o mesmo erro acabou por acontecer, apesar de não termos qualquer laço de sangue.
2.º Eu continuo a não ir à igreja e até reconheço que continuo demasiado distante de Deus ou qualquer outra divindade, quem quer que ela seja.
Mas acredito! acredito que há alguma coisa que olha por nós.
Eu não me refugiei na religião, mas tenho a certeza de quem vai buscar apoio na fé, tem a vida muito mais facilitada, acho que terá outro conforto.
Tal como já disse, apesar de ainda estar longe de uma ligação com a religião, eu senti alguma coisa a tocar-me o coração quando ouvi certas palavras.
Pensar que a minha filha possa estar num lugar melhor reconforta-me
Pensar que ela realmente tinha uma missão e que a cumpriu naquele período de 3 dias que esteve comigo e com a milha mulher também me reconforta.
Quem sabe se essa missão não seria avisar-me deste problema que tanto eu como a milha esposa desconhecíamos, e fazer-nos pensar na adopção de crianças ou até mesmo ( e desculpem-me a presunção), escrever este mail e ajudar alguém com isso.
3.º Quem sofre uma perda desta natureza, tem de lutar. O casal tem de se apoiar mutuamente, e ambos tem de se apoiar na família, nos colegas, nos amigos, nos vizinhos. E nunca mas nunca virarem-se para dentro e cortar as ligações com o resto do mundo e achar que só os antidepressivos vão ser a solução.
4.º Muitas vezes até podemos achar que somos culpados de alguma coisa. Mas temos de afastar as ideias negativas das nossas cabeças.
“O culpar-me” não vai resolver absolutamente nada, só produzirá danos em nós próprios.
Ainda esta semana, assistimos a uma situação de grande drama e infelicidade, de um pai que se esqueceu do seu filho no carro, acabando este por falecer.
O meu coração está com este pai e quero aproveitar para lhe deixar uma mensagem de carinho pois ele bem precisará. Obviamente ele foi infeliz, é um problema moral, familiar, conjugal... eu sei lá... uma coisa eu tenho a certeza. A vida deste homem alterou-se, e maior castigo do que ele já teve ninguém lhe vai conseguir dar.
Quantos pais não esqueceram de ir buscar/levar os filhos à escola, ou os deixaram sozinhos perto de uma tomada ou de um fogão ligado, ou deixaram uma criança cair, ou não apertaram o cinto de segurança de forma correcta. Tudo isto é decorrente do ritmo de vida que a própria sociedade nos impõe no dia a dia.
A única diferença e que este pai foi infortunado, enquanto muitos outros pais tiveram a felicidade de não o ser.
5.º Por favor acreditem sempre que são capazes, sejam positivos. Neste fórum vi mensagens óptimas de pessoas que são exemplos vivos dessa determinação... nunca desistem.
Esse é o caminho
A atitude negativa, a comiseração não nos levam a lado nenhum. E já agora vivam e sejam felizes.
A maior lição que eu tirei da perca da minha bébé, foi que tudo se esbate, tudo se diminui à importância de uma grão de pó.
Ódios, amores mal resolvidos, problemas de dinheiro, traições preocupações, mau ambiente no seio da família ou do trabalho ou da comunidade, e tantas outras coisas.
Trocava 1 milhão de problemas desses pelo único problema que eu realmente tenho, que foi uma filha que se foi embora muito cedo, demasiado cedo.
Um abraço a todos
Miguel Trindade
Comentar