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Desculpem esta intromissão

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  • Desculpem esta intromissão

    Olá a todas(os)

    O meu nome é Miguel Trindade, e vim até este fórum por mera curiosidade, pois sou pai de uma bébé linda (A Bruna) que têm 4 meses e meio. E isso leva-me a muitas vezes vir surfar pela net à procura de temas sobre bebés, sobre a sua evolução, o seu crescimento, esclarecimento de duvidas e tantas outras coisas que com certeza vocês também fazem .

    Ao visitar este fórum, acabei por esbarrar no tema "Aborto/Perda Gestacional" e li alguns posts sobre este assunto.
    Do que vi e analisei, constatei... tristezas, magoas, desesperos, desalentos. Mas também vi pessoas fortes, positivismo e vontade de lutar e vencer.

    Embora este post talvez até esteja aqui um pouco fora de contexto, gostaria de contar uma historia e deixar aqui uma mensagem de carinho e de esperança a todas(os) que perderam um filho ou uma filha.

    Em Maio de 2007 eu e a minha esposa perdemos a nossa primeira bébé ( a Bárbara) no seu 3.º dia de vida.
    Jamais esquecerei que na manha de 2.º feira fui buscar a minha família (mãe e filha) à maternidade, e que passadas algumas horas ela faleceu independentemente de todos os meus esforços e dos esforços do INEM para a reanimar.

    Realmente o meu mundo tinha acabado de desabar, eu não queria acreditar e só me restava a esperança que tudo fosse um sonho mau, um pesadelo que iria acabar dentro de momentos.
    Infelizmente assim não foi.. passei por vários estados... a descrença, a revolta (primeiro contra deus, depois contra os médicos), a necessidade de encontrar um culpado, a duvida se o culpado fui eu, e por fim o encarar da realidade, depois a tristeza e finalmente o estado em que vivo hoje e que jamais me abandonará que será a eterna saudade.

    Obviamente que não me consigo colocar na pele da minha esposa e sentir o que ela sentiu, assim como não me consigo colocar na pele de qualquer outra mulher que tenha perdido uma criança ou um bébe durante a gestação.
    Mas sou um pai, como qualquer outro pai ou mãe que perdeu uma filha. Que foi à medicina legal, ao hospital pediátrico e à autoridade policial responder a questões durissimas, a tal ponto que cheguei a questionar-me...Será que eu ou a minha mulher fizemos alguma coisa de mal, será que fomos maus pais, ou incompetentes?
    Posso-vos dizer que me senti arrasado por tudo o que estava a acontecer, e frustado por saber que nunca iria ter a minha filha de volta.

    Foi também uma altura em que ouvi de tudo...posso-me gabar de ter muitos amigos e muitos conhecidos, e através de todos eles começaram a chegar historias de casais novos e velhos a quem tinha acontecido algo semelhante - "A perca" - quer na fase de gestação quer após o nascimento. Começei então a ver que vizinhos, amigos, pais de amigos, familiares de amigos todos tinham uma historia para contar, uma historia escondida e arrumada no baú do esquecimento mas que vinham partilhar comigo e com a minha mulher.
    Também ouvi muitas frases feitas, como "Não estranhes os desígnios de Deus", ou "Todos nós vimos ao mundo com uma missão, não sabemos qual a missão da bárbara, mas a missão dela já foi cumprida”.

    Mas um dia houve um ponto de viragem, alguém me segredou que eu devia acreditar que a minha filha estava num sitio bom. Tal como um bébé quando esta na barriga da mãe...ele só conhece aquele ambiente, esta ali quentinho e confortável e julgamos nós que ele não quer dali sair. O nascimento é uma experiência dura para um bébé, mas aquela acção de nascer e chegar ao desconhecido, traz-lhe outro tipo de conforto e carinho. Se acreditarmos em “algo”, pode ser que a nossa partida para outro estado tenha também um destino feliz.
    Quero salientar que sou um católico, que raramente vai a uma igreja e ando mais vezes afastado de deus do que junto dele. De igual forma não tenho qualquer associação com qualquer tipo de religião. Mas reconheço que algo bateu no meu coração quando ouvi aquelas palavras. E realmente mais tarde elas vieram a fazer sentido e já vos explicarei porque.


    O primeiro passo que eu e a minha mulher demos, foi não aceitar antidepressivos que os médicos já nos queriam impingir.
    Disse à médica que primeiro queria tentar lutar sem a ajuda de muletas dessa natureza. E o compromisso foi assumido, comprometendo-nos a recorrer a essa possibilidade caso as coisas não estivessem a melhorar.
    Também quero salientar que deixar avançar um depressão é um disparate tremendo, e ao menor indício deve-se recorrer a ajuda médica pois ela também é necessária.
    Mas nós graças à excelente família que temos tanto do meu lado como do lado da minha mulher, graças aos excelentes amigos, graças aos excelentes vizinhos, e graças aos excelentes colegas de trabalho fomos vivendo um dia de cada vez, caminhando passo a passo, sempre rodeados de gente que não nos deixava pensar naquilo que nos tinha acontecido.
    È óbvio que havia altos e baixos, havia tristeza e lágrimas.
    Um dia fomos visitados em casa por um agente da autoridade para nos identificar por ordem do ministério publico.
    Ficamos atónitos, e naquele dia soubemos que havia um inquérito referente ao falecimento da nossa querida filha (O que sabemos agora ser um procedimento normal, quando cocorre a morte de uma criança em situações não esclarecidas).
    Depois foi o prestar depoimento... mais um abalo... Começamos a pensar que alguém acha que fizemos mal à nossa bébé. E depois também nos começamos a questionar; Será que fizemos algo de errado? será que não a deitamos bem?será que não a deixamos convenientemente virada? Será que lhe devia-mos ter dado mais mama? Será que ela chorou e nós não ouvimos?... será...? Serà...? foi angustiante

    Houve então um dia que fomos chamados ao hospital pediátrico para onde a Bárbara foi inicialmente levada pelo INEM.
    E lá fomos informados de que desconfiavam que a bárbara tinha falecido devido a um problema decorrente de um eventual defeito genético.
    Passaram-se dias, semanas e meses até haver um resultado das análises que solicitaram e que só puderam ser confirmadas no estrangeiro.
    Efectivamente a nossa bébé, partiu devido a uma incapacidade de as suas células processarem energia proveniente da alimentação, e essa incapacidade por sua vez foi causada pela presença de um erro genético que tanto eu como a minha esposa somos portadores, embora saudáveis.
    Além disso fomos desde logo informados que a probabilidade de ter um filho com a mesma doença seria de 25% em cada gravidez.
    Além deste novo soco no estômago, e ainda que a descoberta feita pelos médicos não nos trouxesse de volta aquilo que nós mais queríamos, nem nos tenha apaziguado a dor, tenho de reconhecer que começamos a olha para o futuro de maneira diferente depois de perceber o que na realidade se passou.



    Tudo isto se passou há cerca de dois anos.
    Como já referi, hoje somos pais de outra linda menina que vai fazer 5 meses brevemente, e estamos super felizes com ela. Nós, toda a nossa família, os nossos amigos e colegas e vizinhos que desde o inicio nos apoiaram.
    Foi uma gravidez muito vigiada e cheia de testes, mas tudo correu pelo melhor.

    Para concluir, este texto que já vai demasiado longo quero só deixar algumas mensagens.


    1.º O nascimento de um filho(a) é realmente um milagre, não tenhamos duvidas disso.
    Obviamente que este meu texto não tem qualquer carácter ou fundamento cientifico, mas quem já teve uma perda, se olhar à sua volta verifica que não esta só, infelizmente estas situações são mais comuns do que aquilo que imaginamos, quase toda a gente tem um familiar ou um amigo que passou por isto, ou até terá passado por isto
    Também não devemos descurar a possibilidade de haver um problema, e os médicos tem a função de nos ajudar a identificar esse problema e ultrapassa-lo dentro do que lhes é possível.
    Já agora, sabiam que todos nós possuímos uma meia dúzia de erros genéticos? E já viram em tantos milhões de pessoas a ínfima probabilidade de eu e a minha esposa termos o mesmo erro acabou por acontecer, apesar de não termos qualquer laço de sangue.

    2.º Eu continuo a não ir à igreja e até reconheço que continuo demasiado distante de Deus ou qualquer outra divindade, quem quer que ela seja.
    Mas acredito! acredito que há alguma coisa que olha por nós.
    Eu não me refugiei na religião, mas tenho a certeza de quem vai buscar apoio na fé, tem a vida muito mais facilitada, acho que terá outro conforto.
    Tal como já disse, apesar de ainda estar longe de uma ligação com a religião, eu senti alguma coisa a tocar-me o coração quando ouvi certas palavras.
    Pensar que a minha filha possa estar num lugar melhor reconforta-me
    Pensar que ela realmente tinha uma missão e que a cumpriu naquele período de 3 dias que esteve comigo e com a milha mulher também me reconforta.
    Quem sabe se essa missão não seria avisar-me deste problema que tanto eu como a milha esposa desconhecíamos, e fazer-nos pensar na adopção de crianças ou até mesmo ( e desculpem-me a presunção), escrever este mail e ajudar alguém com isso.

    3.º Quem sofre uma perda desta natureza, tem de lutar. O casal tem de se apoiar mutuamente, e ambos tem de se apoiar na família, nos colegas, nos amigos, nos vizinhos. E nunca mas nunca virarem-se para dentro e cortar as ligações com o resto do mundo e achar que só os antidepressivos vão ser a solução.

    4.º Muitas vezes até podemos achar que somos culpados de alguma coisa. Mas temos de afastar as ideias negativas das nossas cabeças.
    “O culpar-me” não vai resolver absolutamente nada, só produzirá danos em nós próprios.
    Ainda esta semana, assistimos a uma situação de grande drama e infelicidade, de um pai que se esqueceu do seu filho no carro, acabando este por falecer.
    O meu coração está com este pai e quero aproveitar para lhe deixar uma mensagem de carinho pois ele bem precisará. Obviamente ele foi infeliz, é um problema moral, familiar, conjugal... eu sei lá... uma coisa eu tenho a certeza. A vida deste homem alterou-se, e maior castigo do que ele já teve ninguém lhe vai conseguir dar.
    Quantos pais não esqueceram de ir buscar/levar os filhos à escola, ou os deixaram sozinhos perto de uma tomada ou de um fogão ligado, ou deixaram uma criança cair, ou não apertaram o cinto de segurança de forma correcta. Tudo isto é decorrente do ritmo de vida que a própria sociedade nos impõe no dia a dia.
    A única diferença e que este pai foi infortunado, enquanto muitos outros pais tiveram a felicidade de não o ser.

    5.º Por favor acreditem sempre que são capazes, sejam positivos. Neste fórum vi mensagens óptimas de pessoas que são exemplos vivos dessa determinação... nunca desistem.
    Esse é o caminho
    A atitude negativa, a comiseração não nos levam a lado nenhum. E já agora vivam e sejam felizes.

    A maior lição que eu tirei da perca da minha bébé, foi que tudo se esbate, tudo se diminui à importância de uma grão de pó.
    Ódios, amores mal resolvidos, problemas de dinheiro, traições preocupações, mau ambiente no seio da família ou do trabalho ou da comunidade, e tantas outras coisas.
    Trocava 1 milhão de problemas desses pelo único problema que eu realmente tenho, que foi uma filha que se foi embora muito cedo, demasiado cedo.

    Um abraço a todos

    Miguel Trindade

  • #2
    RE:

    Miguel:

    Nem sei bem o que dizer, apenas senti que tinha que responder ao seu post. A vida pregou-lhe uma partida que não imagino quão difícil possa ter sido. Não consigo imaginar o sofrimento de ver um filho morrer, nem gosto de pensar nisso, só tenho vontade de chorar. Um abraço para si e para a sua esposa, um abraço de admiração, de compaixão, do que quiser. Muita saúde e felicidade para vocês e para a vossa filhota. Desejo-o tanto como o desejo para a minha bebé de 5 meses. Vocês são um exemplo de coragem e serenidade no meio da tempestade.


    Beijinho,

    Dannyzoca
    Dannyzoca(A orgulhosa mamã da linda Margarida)



















    Madrilhada: catiaa







    Madrinha: vera pinto







    Afilhada: catherine

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    • #3
      RE:

      Inserido Inicialmente por Miguel Trindade
      Olá a todas(os)

      O meu nome é Miguel Trindade, e vim até este fórum por mera curiosidade, pois sou pai de uma bébé linda (A Bruna) que têm 4 meses e meio. E isso leva-me a muitas vezes vir surfar pela net à procura de temas sobre bebés, sobre a sua evolução, o seu crescimento, esclarecimento de duvidas e tantas outras coisas que com certeza vocês também fazem .

      Ao visitar este fórum, acabei por esbarrar no tema "Aborto/Perda Gestacional" e li alguns posts sobre este assunto.
      Do que vi e analisei, constatei... tristezas, magoas, desesperos, desalentos. Mas também vi pessoas fortes, positivismo e vontade de lutar e vencer.

      Embora este post talvez até esteja aqui um pouco fora de contexto, gostaria de contar uma historia e deixar aqui uma mensagem de carinho e de esperança a todas(os) que perderam um filho ou uma filha.

      Em Maio de 2007 eu e a minha esposa perdemos a nossa primeira bébé ( a Bárbara) no seu 3.º dia de vida.
      Jamais esquecerei que na manha de 2.º feira fui buscar a minha família (mãe e filha) à maternidade, e que passadas algumas horas ela faleceu independentemente de todos os meus esforços e dos esforços do INEM para a reanimar.

      Realmente o meu mundo tinha acabado de desabar, eu não queria acreditar e só me restava a esperança que tudo fosse um sonho mau, um pesadelo que iria acabar dentro de momentos.
      Infelizmente assim não foi.. passei por vários estados... a descrença, a revolta (primeiro contra deus, depois contra os médicos), a necessidade de encontrar um culpado, a duvida se o culpado fui eu, e por fim o encarar da realidade, depois a tristeza e finalmente o estado em que vivo hoje e que jamais me abandonará que será a eterna saudade.

      Obviamente que não me consigo colocar na pele da minha esposa e sentir o que ela sentiu, assim como não me consigo colocar na pele de qualquer outra mulher que tenha perdido uma criança ou um bébe durante a gestação.
      Mas sou um pai, como qualquer outro pai ou mãe que perdeu uma filha. Que foi à medicina legal, ao hospital pediátrico e à autoridade policial responder a questões durissimas, a tal ponto que cheguei a questionar-me...Será que eu ou a minha mulher fizemos alguma coisa de mal, será que fomos maus pais, ou incompetentes?
      Posso-vos dizer que me senti arrasado por tudo o que estava a acontecer, e frustado por saber que nunca iria ter a minha filha de volta.

      Foi também uma altura em que ouvi de tudo...posso-me gabar de ter muitos amigos e muitos conhecidos, e através de todos eles começaram a chegar historias de casais novos e velhos a quem tinha acontecido algo semelhante - "A perca" - quer na fase de gestação quer após o nascimento. Começei então a ver que vizinhos, amigos, pais de amigos, familiares de amigos todos tinham uma historia para contar, uma historia escondida e arrumada no baú do esquecimento mas que vinham partilhar comigo e com a minha mulher.
      Também ouvi muitas frases feitas, como "Não estranhes os desígnios de Deus", ou "Todos nós vimos ao mundo com uma missão, não sabemos qual a missão da bárbara, mas a missão dela já foi cumprida”.

      Mas um dia houve um ponto de viragem, alguém me segredou que eu devia acreditar que a minha filha estava num sitio bom. Tal como um bébé quando esta na barriga da mãe...ele só conhece aquele ambiente, esta ali quentinho e confortável e julgamos nós que ele não quer dali sair. O nascimento é uma experiência dura para um bébé, mas aquela acção de nascer e chegar ao desconhecido, traz-lhe outro tipo de conforto e carinho. Se acreditarmos em “algo”, pode ser que a nossa partida para outro estado tenha também um destino feliz.
      Quero salientar que sou um católico, que raramente vai a uma igreja e ando mais vezes afastado de deus do que junto dele. De igual forma não tenho qualquer associação com qualquer tipo de religião. Mas reconheço que algo bateu no meu coração quando ouvi aquelas palavras. E realmente mais tarde elas vieram a fazer sentido e já vos explicarei porque.


      O primeiro passo que eu e a minha mulher demos, foi não aceitar antidepressivos que os médicos já nos queriam impingir.
      Disse à médica que primeiro queria tentar lutar sem a ajuda de muletas dessa natureza. E o compromisso foi assumido, comprometendo-nos a recorrer a essa possibilidade caso as coisas não estivessem a melhorar.
      Também quero salientar que deixar avançar um depressão é um disparate tremendo, e ao menor indício deve-se recorrer a ajuda médica pois ela também é necessária.
      Mas nós graças à excelente família que temos tanto do meu lado como do lado da minha mulher, graças aos excelentes amigos, graças aos excelentes vizinhos, e graças aos excelentes colegas de trabalho fomos vivendo um dia de cada vez, caminhando passo a passo, sempre rodeados de gente que não nos deixava pensar naquilo que nos tinha acontecido.
      È óbvio que havia altos e baixos, havia tristeza e lágrimas.
      Um dia fomos visitados em casa por um agente da autoridade para nos identificar por ordem do ministério publico.
      Ficamos atónitos, e naquele dia soubemos que havia um inquérito referente ao falecimento da nossa querida filha (O que sabemos agora ser um procedimento normal, quando cocorre a morte de uma criança em situações não esclarecidas).
      Depois foi o prestar depoimento... mais um abalo... Começamos a pensar que alguém acha que fizemos mal à nossa bébé. E depois também nos começamos a questionar; Será que fizemos algo de errado? será que não a deitamos bem?será que não a deixamos convenientemente virada? Será que lhe devia-mos ter dado mais mama? Será que ela chorou e nós não ouvimos?... será...? Serà...? foi angustiante

      Houve então um dia que fomos chamados ao hospital pediátrico para onde a Bárbara foi inicialmente levada pelo INEM.
      E lá fomos informados de que desconfiavam que a bárbara tinha falecido devido a um problema decorrente de um eventual defeito genético.
      Passaram-se dias, semanas e meses até haver um resultado das análises que solicitaram e que só puderam ser confirmadas no estrangeiro.
      Efectivamente a nossa bébé, partiu devido a uma incapacidade de as suas células processarem energia proveniente da alimentação, e essa incapacidade por sua vez foi causada pela presença de um erro genético que tanto eu como a minha esposa somos portadores, embora saudáveis.
      Além disso fomos desde logo informados que a probabilidade de ter um filho com a mesma doença seria de 25% em cada gravidez.
      Além deste novo soco no estômago, e ainda que a descoberta feita pelos médicos não nos trouxesse de volta aquilo que nós mais queríamos, nem nos tenha apaziguado a dor, tenho de reconhecer que começamos a olha para o futuro de maneira diferente depois de perceber o que na realidade se passou.



      Tudo isto se passou há cerca de dois anos.
      Como já referi, hoje somos pais de outra linda menina que vai fazer 5 meses brevemente, e estamos super felizes com ela. Nós, toda a nossa família, os nossos amigos e colegas e vizinhos que desde o inicio nos apoiaram.
      Foi uma gravidez muito vigiada e cheia de testes, mas tudo correu pelo melhor.

      Para concluir, este texto que já vai demasiado longo quero só deixar algumas mensagens.


      1.º O nascimento de um filho(a) é realmente um milagre, não tenhamos duvidas disso.
      Obviamente que este meu texto não tem qualquer carácter ou fundamento cientifico, mas quem já teve uma perda, se olhar à sua volta verifica que não esta só, infelizmente estas situações são mais comuns do que aquilo que imaginamos, quase toda a gente tem um familiar ou um amigo que passou por isto, ou até terá passado por isto
      Também não devemos descurar a possibilidade de haver um problema, e os médicos tem a função de nos ajudar a identificar esse problema e ultrapassa-lo dentro do que lhes é possível.
      Já agora, sabiam que todos nós possuímos uma meia dúzia de erros genéticos? E já viram em tantos milhões de pessoas a ínfima probabilidade de eu e a minha esposa termos o mesmo erro acabou por acontecer, apesar de não termos qualquer laço de sangue.

      2.º Eu continuo a não ir à igreja e até reconheço que continuo demasiado distante de Deus ou qualquer outra divindade, quem quer que ela seja.
      Mas acredito! acredito que há alguma coisa que olha por nós.
      Eu não me refugiei na religião, mas tenho a certeza de quem vai buscar apoio na fé, tem a vida muito mais facilitada, acho que terá outro conforto.
      Tal como já disse, apesar de ainda estar longe de uma ligação com a religião, eu senti alguma coisa a tocar-me o coração quando ouvi certas palavras.
      Pensar que a minha filha possa estar num lugar melhor reconforta-me
      Pensar que ela realmente tinha uma missão e que a cumpriu naquele período de 3 dias que esteve comigo e com a milha mulher também me reconforta.
      Quem sabe se essa missão não seria avisar-me deste problema que tanto eu como a milha esposa desconhecíamos, e fazer-nos pensar na adopção de crianças ou até mesmo ( e desculpem-me a presunção), escrever este mail e ajudar alguém com isso.

      3.º Quem sofre uma perda desta natureza, tem de lutar. O casal tem de se apoiar mutuamente, e ambos tem de se apoiar na família, nos colegas, nos amigos, nos vizinhos. E nunca mas nunca virarem-se para dentro e cortar as ligações com o resto do mundo e achar que só os antidepressivos vão ser a solução.

      4.º Muitas vezes até podemos achar que somos culpados de alguma coisa. Mas temos de afastar as ideias negativas das nossas cabeças.
      “O culpar-me” não vai resolver absolutamente nada, só produzirá danos em nós próprios.
      Ainda esta semana, assistimos a uma situação de grande drama e infelicidade, de um pai que se esqueceu do seu filho no carro, acabando este por falecer.
      O meu coração está com este pai e quero aproveitar para lhe deixar uma mensagem de carinho pois ele bem precisará. Obviamente ele foi infeliz, é um problema moral, familiar, conjugal... eu sei lá... uma coisa eu tenho a certeza. A vida deste homem alterou-se, e maior castigo do que ele já teve ninguém lhe vai conseguir dar.
      Quantos pais não esqueceram de ir buscar/levar os filhos à escola, ou os deixaram sozinhos perto de uma tomada ou de um fogão ligado, ou deixaram uma criança cair, ou não apertaram o cinto de segurança de forma correcta. Tudo isto é decorrente do ritmo de vida que a própria sociedade nos impõe no dia a dia.
      A única diferença e que este pai foi infortunado, enquanto muitos outros pais tiveram a felicidade de não o ser.


      5.º Por favor acreditem sempre que são capazes, sejam positivos. Neste fórum vi mensagens óptimas de pessoas que são exemplos vivos dessa determinação... nunca desistem.
      Esse é o caminho
      A atitude negativa, a comiseração não nos levam a lado nenhum. E já agora vivam e sejam felizes.

      A maior lição que eu tirei da perca da minha bébé, foi que tudo se esbate, tudo se diminui à importância de uma grão de pó.
      Ódios, amores mal resolvidos, problemas de dinheiro, traições preocupações, mau ambiente no seio da família ou do trabalho ou da comunidade, e tantas outras coisas.
      Trocava 1 milhão de problemas desses pelo único problema que eu realmente tenho, que foi uma filha que se foi embora muito cedo, demasiado cedo.

      Um abraço a todos

      Miguel Trindade
      Concordo plenamente com estas palavras. Nunca e sempre são palavras que se devem evitar e acho que não devemos dizer que uma coisa destas não nos acontecia a nós pq não sabemos o dia de amanhã e há coisas que acontecem e nunca vamos perceber o seu porquê. O que aconteceu a esta família foi uma tragédia e esse pai já está a pagar bem caro pelo seu esquecimento...e esquecimentos todos temos. Eu sei que é dificil perceber como se esquece um filho assim mas conheço alguns casos destes, só que felizmente não acabaram mal e hj até dão para rir... ao contrário deste...

      E já agora obrigado por ter tido a coragem de partilhar a sua história connosco.
      Você nasce sem pedir e morre sem querer...Aproveite o intervalo!




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      • #4
        RE:

        Ola!

        Obrigado por partilhares a tua historia.

        Muitas felicidades para a Bruna e tudo de bom para voces!

        Rute

        Ps E ja agora nao deixes de participar no forum em geral. Tanto os papas como as mamas sao muito bem vindos!

        O meu parto de 14 dias
        Bebes e Mamas marcianas de 2008
        Foram 25 meses, 2 semanas e 4 dias de maminha com muito amor (mamou a ultima vez a 22 de Abril 2010). CIA congénita, encerrada por cateterismo aos 4 anos e 5 meses.
        CIA congénita... Um operado, outro à espera que feche...

        Comentar


        • #5
          RE:

          Olá.

          Obrigada por contares a tua história.
          Da 1ª vez que engravidei sofri um aborto espontaneo às 12 semanas e foi dificil mas nem consigo conceber o vosso sofrimento mas tambem concordo que com o tempo tudo se vai esbatendo e temos de olhar em frente com esperança. Felizmente a seguir tive um filhote lindo e saudável.
          Muitas felicidades para vocês.

          Comentar


          • #6
            RE:

            Parabéns pelos pais coragem k são...
            Pense k tem uma estrelinha linda no céu a olhar por vocês e a tomar conta da vossa bebé

            Martim nasceu dia 28/09/08, ás 15h15, 48,5cm e 3,350kg























            Madrinha:Mariara- Tem dois meninos lindos :)





            Afilhadas: Narizinho- Nasceu a carolina dia 1/11/09 :), JuanaeRasta- Espera o seu tesouro :D, Zukinha- Já tem o deu diogo :)

            Comentar


            • #7
              RE:

              Olá Miguel Trindade...

              Quando vi este post tive logo necessidade de me exprimir o quanto percebo a vossa dor, o quanto nós questionamos para entendermos o porquê das coisas, porquê nós...porquê o nosso bébé?!!!

              Obrigado sim por este post que demostra muita coragem por vossa parte ... Eu tive um caso identico!

              Muitas fóristas já conhecem o meu caso, vou me repetir um bocado porque tenho essa necessidade..
              Á duas semanas atráz faleceu a minha filha, tinha 1 mês e meio de vida, á 4ª semana de vida disseram-me que a minha filha tinha uma doença genética terrivel ao qual não havia ainda tratamento...Ficamos logo sem chão, sabendo que deviamos estar á espera do pior e que mais dia menos dia a nossa filha iria partir...

              De facto questinamos muito porquê nós...porque é que temos este gene...inumeras coisas incluido aquilo que disse "AFINAL QUAL ERA A MISSÃO DA LEONOR?", certo era que muita gente dizia também que ela tinha comprido a sua missão e que estava na hora de ir para ao pé de Jesus. (Também sou muito afastada de Deus mas acredito que um dia possa ser feliz de novo "

              Vi aos poucos a minha filha falecer, nos seus ultimos dias de vida também não fazia a digestão do que bebia...houve uma manhã que acordei sem o choro da minha princeza quando olho para o lado estava ela a olhar com muita atençao para o tecto com olhinhos de doente...comecei a falar com ela, mas quando lhe toquei comecei logo a chorar porque a Leonor estava gelada, tinha 32 graus de febre já não se mechia, não estrabuchou a mudar a fralda...vi logo estava qualquer coisa a não bater certo...fui a correr para o hospital e disseram-me que tinha chegado a hora dela...e assim foi ... dia 2 de Março a minha filha morre nos meus braços... foi muito duro.
              Penso todos os dias nela, no vazio que a minha vida se tornou, ainda não temos mais filhos mas esperemos que tenhamos uma boa noticia muito em breve.

              Obrigado por dares coragem a estas meninas deste cantinho...eu venho cá muitas vezes mas não respondo porque a dor ainda tá fresquinha mas este post de certo que vai fazer muitas mães e mulheres a reflentirem. Tudo começa e tudo tem um fim ...infelizmente foram os nossos bébés que partiram primeiro que os pais...mas há aí qualquer coisa para nos ensinar...

              Bejinhos e em especial para todas nossas estrelinhas que nos guiam e tomam conta de nós
              Soraia e Samuel
              UMA SESTINHA FOFINHA A LEONORZINHA É AGORA UMA ESTRELINHA 2.3.2008



              SAUDADES DE TI...









              la vem a nossa segunda menina...

              15 semaninhas







              Minhas afilhadinhas:Alfasol...asoares1986...Guardian_angel...bonekinh a79...bia26...sonya_carmo

              Minha madrinha:sarafofa:D....nc17...ADCCS:P...Fairy e Paula_Azeitão:cool:FAMILIA GANDI;)



              blog : http://soraandsam.blogspot.com/

              Comentar


              • #8
                RE:

                Miguel,

                Obrigada por partilhar a sua história... de facto é como diz... há sempre alguém perto de nós que sofreu uma perda, que tem uma história parecida, etc. Não é que fiquemos felizes porque a "desgraça" não bateu apenas na nossa porta, mas porque parece que há alguém que compreende um pouco da nossa dor. Penso que a partilha de experiência, aqui no forum, reconforta e dá colo a quem sofreu uma perda...

                A minha irmã, viveu uma situção parecida... a minha sobrinha viveu apenas 4 dias, mas ela nunca chegou a vir para casa. infelizmente ela não coneguiu ter mais filhos... e o tempo passou. Hoje, passados 8 anos e como estou grávida, noto que a dor dela é enorme. Está feliz por mim, mas sofre muito por ela e pela filholha (Beatriz) que partiu... sofre também por não ter tido mais uma, apenas uma oportunidade.

                Admiro muito a vossa coragem, o meus parabéns pelos pais que são!
                O meu blog de vendas: http://casaycoisas.blogspot.com/

                Os meus tesouros...

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                • #9
                  RE:

                  OBG POR PARTILHARES A TUA HISTORIA
                  E pelas tuas palavras!!!!
                  Nao sou mae, mas tia de 2 gemeos lindos que nasceram cedo e partiam cedo, em outubro de 2008....
                  O Gui viveu 4 dias e o Afonso 9 dias....
                  Nao da pra explicar tamanha dor.....

                  Ver os nossos bebés partir é uma dor inexplicavel mesmo....

                  Qd te referes ao anti-depressivos, a minha mana tb quis evitar tomar , mas nao conseguiu e teve mm q tomar, mas felizmente esta bem melhor e ja esta a tentar engravidar outra vez....

                  Tambem somos uns felizardos por termos uma familia e amigos que nos dao todo o apoio do mundo!!!!!! Sem eles era dificil reagirmos a tamanha dor....
                  Os nossos bebés NUNCA vao ser esquecidos, mas agora a vida continua e queremos rechear a casa de crianças...

                  Em relaçao a Deus, so tenho a dizer que a VIDA E MUITO INJUSTA.... Ninuem merece sofrer tanto... Devia ser proibido....

                  Parabens pela tua Bruna

                  Bj pra ti, pra tua mulher e pra tua filhota
                  PauLLa



                  http://paullasurvivor.blogspot.com/



                  OS MEUS SOBRINHOS-AFILHADOS QUE EU ADORO (TIAGO,BRENDA,BIA&INES)



                  Tia de 2 gémeos lindos que nasceram de 25+3 semanas. O Guilherme viveu 4 dias e o Afonso 9 dias..Pra sempre no meu coração!!!



                  Hipogonadismo hipogonadotrófico



                  Inscrita pra FIV em 02-2010

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                  • #10
                    RE:

                    Obrigada por partilhares a tua história... Realmente, há alturas na vida em que nos questionamos àcerca de tudo...a dúvida de termos falhado, de estarmos a ser castigados....enfim!!
                    Vocês são um exenplo de coragem e de determinação!!!

                    Muitas felicidades e tudo de bom no Mundo para a vossa filhota!!!

                    P.S. Sora21...um abraço apertado para ti, de alguém que compreende apenas parte do teu sofrimento, porque perdi o meu filho ainda durante a gestação!! Sei que não há palavras para reconfortar uma perda assim, mas a vida ainda te há-de sorrir...MUITO!!

                    Comentar


                    • #11
                      RE:

                      Obrigado a todos pelas vossas palavras

                      Para todas(os) vocês um grande abraço... lembram-se do principezinho... " o essencial é invisível aos olhos, só se vê bem com o coração"

                      Força para todos os pais e mães.

                      Miguel Trindade

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                      • #12
                        RE:

                        É impossivel ler o teu texto e não nos sentirmos comovidos.

                        Felicidades e tudo de bom.



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                        • #13
                          RE:

                          São histórias como esta que me fazem pensar que a minha dor é insignificante, perante a sua... Desde sempre disse que pior do que perder um bebé "in utero", só mesmo depois de nascer...Nem quero imaginar o que devem ter passado, se eu fui ao fundo do poço quando perdi a Catarina...

                          Felicidades!

                          Comentar


                          • #14
                            RE:

                            Apenas queria felicitar o Miguel pelo acto de generosidade e partilha...

                            Que um raio de luz suave , terno e morno ilumine a Barbara , a Leonor... e os outros anjinhos destas(es) maes e pais.... ... é um sofrimento desumano, atroz... avassalador
                            As palavras que escreves são, de facto, de uma tranquilidade e sabedoria enorme.... subscrevo inteiramente, se me permites... pois não poderia escreve.las tão bem...

                            Nao acredito em Deus, como a religiao católica pretende que acreditemos....
                            Não professo nenhuma outra religião...
                            Mas acredito num Amor "superior" e profundo que nos una a todos de alguma forma indelével... (... julgo que para a maioria, seria algo identico a Deus...)
                            Perdi o meu bebé ...e parte de mim morreu em 2003...
                            entretanto, já fui Mae de novo em 2004 e 2007
                            É mesmo possível voltar a ser feliz.... muito feliz...

                            Miguel: Obrigada, por palavras tão calorosas e sádias. Terá com certeza um bom coração. Felicidades para a sua Bruna

                            Sora21: Nem sei o que te dizer.... um abraço sincero e comovido... que todo o Amor do mundo ampare e embale a tua querida Leonor...

                            Um beijinho a todos os Anjinhos que partiram... mas não partiram de dentro de nós

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                            • #15
                              RE:

                              Miguel, nem sei bem o que dizer...talvez começe por um grande OBRIGADO por partilhares a tua Barbara connosco e por seres um super pai e provavelmente um super marido.
                              Um beijinho e um abracinho bem apertado para vocês.
                              Diana
                              :::::::::::::::::::::::Os meus amores:::::::::::::::::::::::::::::::::::



                              A minha madrinha é a madrinha mais maravilhosa do mundo- Golfinho .....muito Obrigada por tudo...mesmo.
                              As minhas queridas afilhadas são - ísaribas e MargaridaGam ......prometo que serei uma boa madrinha ;)



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