Uma das grandes preocupações dos pais é saber se o seu filho tem uma boa audição. Porque o nível de audição tem uma importância fundamental no desenvolvimento da linguagem oral e no desenvolvimento psíquico e mental. Mesmo uma perda auditiva leve, na infância, pode afectar gravemente a capacidade de falar e comunicar. Mas em qualquer idade se poderá fazer a avaliação da capacidade auditiva da criança.
Como se processa a audição?
O pavilhão da orelha colecta e concentra as vibração do meio ambiente. Estas ondas sonoras fazem vibrar a membrana que separa o ouvido externo do ouvido médio – a membrana timpânica ou tímpano. Esta faz vibrar três pequenos ossinhos, que transmitem a vibração para o ouvido interno, e daí para os centros auditivos centrais, situados no sistema nervoso central. Esses ossinhos tem o nome de martelo, bigorna e estribo e estão situados no ouvido médio.
Evolução da audição normal
Sabe-se que a criança já ouve ainda dentro do útero materno.
Desde o nascimento que os sons bruscos e intensos despertam e assustam a criança. Pelos três meses já é reconhecida a voz dos pais. Pelos seis meses a criança já se vira na direcção da origem dos sons. Pelo ano de idade a criança já começa a balbuciar sons simples, como 'mamã', 'papá', 'bebé'.
Tipos de perda auditiva
Quando a perda auditiva é causada por alteração mecânica no ouvido externo ou ouvido médio, (infecções, traumatismos, roturas do tímpano, obstrução do ouvido externo por cerúmen, etc.) diz-se de transmissão . Se é provocada por malformações do ouvido, mau funcionamento quer do ouvido interno, quer dos centro nervosos da audição, lesões traumáticas ou tóxicas que afectem os centros nervosos, diz-se sensorineural. Se tem ambas as causas, diz-se mista. Se é provocada, não pela lesão das vias ou centros auditivos, mas sim pela dos centros nervosos responsáveis pelo processamento da fala, diz-se central (a criança ou adulto ouve bem, mas não consegue transformar esses sons em palavras ou frases).
A hipoacusia (perda de audição) de condução, normalmente é temporária, moderada, e tratável por meios médicos ou cirúrgicos. Os outros tipos, frequentemente têm causas desconhecidas, por vezes são hereditárias ou genéticas e são permanentes. Muitas já estão instaladas ao nascer, embora outras apareçam já numa fase adiantada da vida (na infância e até na puberdade). Não têm tratamento médico nem cirúrgico. Algumas são susceptíveis de serem minoradas com ajudas auditivas (próteses externas ou próteses endococleares).
Quando se deve fazer avaliação auditiva?
Sempre que houver factores de risco na gravidez ou parto :
- Consanguinidade (filhos de primos ou parentes próximos).
- Sífilis hereditária.
- Rubéola ou outra doença infecciosa da mãe durante a gravidez.
- Medicamentos tomados pela mãe durante a gravidez.
- Prematuridade.
- Baixo peso ao nascer.
- Icterícia ao nascer.
- Parto difícil com traumatismo obstétrico.
- Estadia em incubadora após o nascimento.
- Sempre que houver na família casos de surdez na infância.
- Quando houver meningite ou infecção a citomegalovírus na infância.
- Quando a criança não reaja normalmente aos sons intensos, parecer sistematicamente distraída, tenha dificuldade em aprender, peça sistematicamente para aumentar o volume sonoro da música ou televisão, tenha um vocabulário distorcido ou insuficiente para a idade.
Como se faz a avaliação auditiva?
Depende da idade da criança.
Na primeira infância recorre-se a audiometria comportamental. Estuda-se a reacção do recém nascido a ruídos provocados perto dele, em condições estudadas, e que lhe provocam determinados sobressalto, contracções musculares, reflexos vários, etc.
Mais tarde recorre-se ao estudo de reflexos condicionados de criança: esta ganha um prémio (um filme ou comboio que passa num écran) quando faz determinado gesto após ouvir um som.
Em crianças muito pequenas ou que não tenham capacidade para dar respostas pode recorrer-se, em ambiente especializado, aos potenciais evocados auditivos (ERA). Consiste em, com anestesia ou com sedação da criança, emitir determinados 'clicks' no ouvido e colher, por meio de eléctrodos, as respostas eléctricas ao longo dos nervos auditivos (ERA) ou no próprio cérebro (BERA).
Um método promissor, mas ainda pouco divulgado, é o estudo através das otoemissões acústicas (OEA), que no fundo estuda o 'eco' produzido por determinados impulsos sonoros no ouvido interno.
Estes métodos, complexos, serão feitos em ambiente especializado e muitas vezes têm que ser repetidos várias vezes.
A timpanometria, muito mais simples e que pode ser feita em qualquer consultório, mede não a audição, mas a mecânica do ouvido externo e médio, a capacidade de vibração da membrana timpânica e dos ossinhos do ouvido médio.
O que são ajudas auditivas?
Ajudas auditivas são instrumentos que aumentam artificialmente a vibração sonora transmitida á membrana do tímpano ou que produzem e enviam para as vias e centros auditivos as ondas eléctricas que se transformarão em sensação sonora. Assim serão designadas, no primeiro caso, ajudas externas e no segundo implantes cocleares.
As ajudas auditivas devem ser colocadas tão cedo quanto possível, de modo a que as sensações sonoras, que são parte integrante da formação psicológica física e mental da criança comecem a ser recebidas e integradas precocemente.