A altura de desistir
Não é fácil para o casal infértil desistir do tratamento. Parar com os medicamentos fertilizantes, por exemplo, é susceptível de criar um sentimento de derrota que tanto a mulher como o homem pretendem evitar a todo o custo.
No entanto, a insistência do casal em persistir no tratamento pode gerar consequências nefastas não só a nível pessoal, mas também a nível conjugal.
A pessoa que se submete a um tratamento da infertilidade, seja mulher ou homem, passa a ter como obrigatórias situações altamente stressantes. Além de ter de seguir toda uma disciplina “fertilizante”, por si só psicologicamente castradora, é obrigada a enfrentar ciclos de entusiasmo, expectativa, decepção, raiva, pessimismo e frustração.
Uma vida dedicada à solução do problema da infertilidade – no fundo, é o que acontece com a maioria dos casais inférteis – pode constituir uma ameaça à sanidade física e psíquica do casal, mas também, e sobretudo, à respectiva integridade conjugal.
Será que vale a pena? Uma pergunta constrangedora, mas pertinente, principalmente se o casal vai já na sua quinta tentativa de fertilização in vitro.
Por vezes, é tudo uma questão de adaptação. E de estabelecer a priori um plano responsável de tratamento. Só para dar um exemplo: o casal deve definir logo de início o tempo que tenciona dispender com as maravilhas da ciência para o tratamento da infertilidade. Findo esse prazo temporal, e sem a concretização do objectivo (conceber), há que partir para outras alternativas.
À parte estas considerações, é conveniente deixar claro que a decisão de parar com o tratamento da infertilidade cabe única e exclusivamente ao casal. O médico deve apenas dar a sua opinião sobre o assunto, tendo sempre em conta o aspecto humano em detrimento do factor lucrativo.
Com efeito, há especialistas que se deixam envolver demasiado nas recompensas financeiras do tratamento X ou Y, esquecendo ou relegando para um plano secundário o estado de espírito e as expectativas do casal.
Outras alternativas
Neste âmbito, o casal pode contar, essencialmente, com duas possibilidades:
- Adopção.
- Desistir da maternidade/paternidade.
Ambas se traduzem em decisões difíceis, que exigem da parte da mulher e do homem grandes doses de ponderação e sensatez.
A adopção é uma alternativa viável para os casais cujo objectivo é serem pais, independentemente do factor genético. No entanto, esta alternativa nunca deve ser encarada de ânimo leve.
A criança adoptada, tenha cinco ou dez anos, tem o direito de ser recebida num lar estável, com condições emocionais, psicológicas e financeiras para a criar.
Mais do que uma alternativa, a adopção deve ser encarada como uma responsabilidade acrescida para o casal. É conveniente não esquecer que, assim como o casal não pediu para ser infértil, a criança não pediu para ser adoptada. São ambas circunstâncias menos agradáveis da vida que não merecem ser atenuadas à base de caprichos.
No entanto, há casais que, embora desejem ser pais, não consideram a adopção como uma escolha sensata, pelo menos para eles. Assim, deve-se respeitar as suas escolhas.
Nestes casos, e após a desistência do tratamento da infertilidade, ao fim de inúmeras tentativas frustradas, o casal deve começar a ponderar acerca da possibilidade de uma vida sem filhos.
E a opção não é tão catastrófica como aparenta. Ao invés de serem pais, podem dedicar todo o tempo disponível aos sobrinhos. Ou então desenvolver actividades, nem que seja em part-time, com crianças e adolescentes que façam com que o facto de não poderem conceber se torne o mais irrelevante possível.
No fundo, o segredo está em ponderar todas as alternativas e optar, de forma consciente e responsável, por aquela que se considere mais apropriada. Não consegue engravidar? A adopção não faz, nem nunca fez, parte dos seus planos? Então escolha aquilo que é melhor para si. Se a opção é desistir de ter filhos, qual é o problema? Há no mundo muitas outras coisas boas e recompensadoras para experimentar, além da maternidade e paternidade, e que, merecem também, a sua atenção.