Vou ser mãe pela primeira vez daqui a poucas semanas. Estou à espera de uma menina que está a crescer saudável, agitada, e que a cada dia que passa mais vontade me dá de a querer conhecer, e poder recebe-la nos meus braços. Como moro em Inglaterra há mais de seis anos, achei que seria descabido ir a Portugal ter a minha filha quando estou mais do que habituada aos procedimentos daqui e à maneira das coisas se fazerem por estes lados. Não estou de maneira nenhuma familiarizada com os procedimentos (principalmente os procedimentos hospitalares) em Portugal, mas por muitos dos relatos que li por este site, as coisas não são muito flexíveis e as futuras mamãs têm pouco peso no que toca as decisões que se tomam nessa altura tão importante das nossas vidas.

A minha gravidez é considerada uma gravidez normal, e por isso tenho na minha mão o poder de decidir como quero que o trabalho de parto se efectue. Gravidezes de risco têm outro tipo de acompanhamento e normalmente não se enquadram nas coisas que aqui descrevo.

Como sou mãe de primeira viagem não sei bem o que me espera. Por isso mesmo sempre disse que gostaria de levar uma epidural no meu parto, para não sofrer muito, e deixar as coisas nas mãos das midwives (espécie de parteiras, mas com poderes médicos mais amplos). Só depois de ler o livro 'Guide to Childbirth' de Ina May Gaskin mudei a minha percepção do que é o parto e a dor do parto - nós, mulheres, estamos preparadas naturalmente para enfrentar essa tarefa hercúlea que é pôr uma criança no mundo. Por isso eliminei a epidural da minha lista - só mesmo se eu sentir que não aguento é que estão autorizados a dar-me uma epidural - e eu tenho de a pedir, não quero que me a ofereçam. Decidi ter a minha menina numa das piscinas da maternidade, porque acho que a transição entre o útero e o mundo exterior é mais 'soft' e menos traumatizante para o bebé.

Aqui em Inglaterra, a filosofia do parto natural é muito respeitada, mas aquelas mulheres que preferem um parto medicado também podem fazê-lo sem medos e sem sobrolhos levantados. Epidurais, Pethinine, Oxitocin, Episiotomias... as mulheres aqui podem ter aquilo que desejam, sem represálias ou comentários menos dignos, afinal isto não é um teste de força ou de coragem.

A anteceder essas escolhas (e porque são muitas e variadas), uma das coisas que temos de fazer nas aulas ante-natais é escrever o plano de parto. Esse plano de parto é posteriormente discutido com a nossa midwife. O plano de parto é nada mais nada menos do que um documento pessoal onde estão todas as nossas vontades relativamente ao trabalho de parto e nascimento do bebé. Deve ser incluído no nosso dossier pessoal, onde estão todas as notas e resultados de análises. Esse dossier terá de ser entregue na altura em que somos admitidas na maternidade do hospital.

As midwives levam muito em conta aquilo que lá está escrito, porque o trabalho delas é fazer com que a experiência do parto e do nascimento dos nossos filhos seja o mais agradável possível, e de acordo com os nossos desejos. Obviamente para muita gente certas coisas que aqui se fazem são completamente diferentes daquilo que se faz em Portugal. Basta dizer que a maternidade é no hospital, mas os quartos pouco ou nada lembram o ambiente hospitalar. Pode-se comer e beber antes, durante e depois do parto. Podemos ter quem nós quisermos no quarto, connosco. Médicos só entram em acção quando o bebé ou a mãe estão em perigo iminente. Cesarianas só são feitas depois de se esgotarem todos os outros caminhos possíveis. Intervenções que não são naturais são evitadas até ao limite (a não ser que a futura mamã tenha feito uma nota no seu plano a esse respeito). O poder da parturiente é, sem dúvida, amplo, decisivo e primordial.

No entanto oiço muito que por mais que se faça um plano, as coisas nunca correm como nós esperamos (o que é perfeitamente normal, já que o parto é algo natural e nós não podemos planear a Natureza ou dizer-lhe que queremos que as coisas corram como desejamos)... Por isso comecei este Blog com o intuito de ver como é que o meu plano é aplicado ao nascimento da minha filha, e com isso, identificar quaisquer diferenças ou semelhanças com a finalidade de ver até que ponto é real e útil fazer esse tal plano. Vou transcrever o meu plano no próximo post e incluir comentários sobre as escolhas que fiz e porquê.