O dia do meu parto assombra-me todos os dias desde que ele aconteceu... Ainda nesta última noite acordei às 4h00 para tratar da minha bebé e, a seguir, desatei a chorar sem conseguir dormir mais. É como se o meu parto fosse um filme de terror que se repete na minha cabeça sempre que fecho os olhos.
Eu venho de uma família numerosa nas gerações que me antecedem. Ao longo da minha juventude sempre ouvi relatos de partos, que foram pouco ou nada intervencionados (porque assim era o hábito). Elas têm sempre um brilhozinho nos olhos e dizem que foram os dias mais felizes das vidas delas. Talvez por isto eu considero que fui com uma atitude realista para o meu parto mas nunca o receei.
Em contraste, o dia do nascimento da minha bebé foi dos dias em que me senti mais humilhada e desrespeitada em toda a minha vida.
Eu acredito na boa intenção das pessoas. Fiz um plano de parto em que não escrevi muito porque achei que escrever coisas como reduzir o nº de toques ao mínimo possível seria ofensivo para os profissionais que o lessem que, com certeza, não se divertem profundamente a cada toque que fazem por isso eu não tinha motivo para me preocupar com isso (pensava eu!). De qualquer forma, o meu plano de parto ficou sem efeito porque eu enviei-o na véspera de ir para a maternidade (o meu parto foi prematuro) pensando que o estava a enviar com antecedência. Enquanto eu lá estive e pedi algumas coisas ABSOLUTAMENTE NADA dos meus pedidos foi considerado e, curiosamente, quando eu recebi a resposta ao plano (já estava em casa com a minha bebé) foi-me respondido que todo o meu plano era possível.
Dia 23 de Setembro pelas 20h00 comentei com o meu marido que desconfiava que tinha uma ruptura na bolsa. Olhámos mil e uma vezes para as cuecas sem ter a certeza se seria suor ou se era mesmo uma ruptura. Liguei para a Saúde 24 e pelas 22h00 chegámos ao HGO. A médica das urgências fez-me uma ecografia e disse: "Ruptura de bolsa? O seu bebé está todo contente a nadar em tanto líquido! A bolsa não está rota." Entretanto, ia fazer-me um toque de observação e chamou uma colega: "Olha, afinal parece mesmo que tem uma ruptura, o que achas?" E lá concluíram que tinha mesmo Era pequenina e alta por isso do mal o menos... A médica já nem fez o toque porque disse que não queria mexer-me muito para não estimular o parto uma vez que eu estava de 33 semanas. Fez-me outra eco para ver se eu tinha dilatação e não tinha. Foi-me explicado que eu ia ser levada para o internamento das grávidas e iam manter-me deitadinha a antibiótico, já sabia que não tinha infecção (fizeram-me análises) mas tínhamos que prevenir. Fui ter com o meu marido, dei-lhe todos os meus pertences (como me disseram) e disse-lhe para voltar no dia seguinte à hora da visita. Mal ele se foi embora, a médica disse-me que iam colocar-me na sala de dilatação do bloco de partos, ligada ao CTG para fazer uma avaliação melhor antes de me porem no internamento. E lá fui eu para o bloco...
Passei lá a noite inteira. Pedi para comer mas recusaram-se a dar-me o que fosse. Eu sabia que estava com hipoglicémia porque foi um problema que me acompanhou toda a gravidez. Antes de saber que estava grávida já me levantava de noite com uma vontade "cega" de comer e a única noite da gravidez que passei em jejum foi precisamente aquela. Quando falei com a enfermeira sobre isto é que ela foi ver as análises e disse: "Realmente não pode estar assim." E pôs-me um soro mais glicosado. E se eu não lhe tivesse dito nada??? Entretanto fecharam a porta da sala para eu e outra senhora conseguirmos dormir mas começámos a congelar com o ar condicionado. As campainhas por cima das camas estavam avariadas. Como estávamos imobilizadas pelo soro e pelo CTG e com a porta fechada tivemos que ir gelando... Sem conseguir dormir (quem conseguiria?) pensei sobre os acontecimentos e invadiu-me uma profunda tristeza.
As horas foram passando e, pelas 8h da manhã chega uma amiga que é enfermeira noutra área do hospital e tinha andado à minha procura porque o meu marido disse-lhe que eu estava lá internada. “Queres que lhe telefone a dizer que estás no bloco de partos?” perguntou ela. Claro que queria, não tinha forma de o contactar. Ainda bem que ela telefonou…
Pelas 8h30 (após a mudança de turno) vem o médico chefe de equipa avaliar-me e disse-me que o CTG estava despreocupante e eu ia sair dali para o internamento. Eu perguntei se não ia tomar pequeno-almoço e ele ficou muito admirado por eu não ter comido e mandou que me fossem buscar comida. Comi tudinho mesmo sem me apetecer metade, com medo de não voltar a ter oportunidade.
Entretanto 3 ou 4 pessoas diferentes fizeram-me toques. Eu não disse nada. Sentia-me triste, desamparada, pequenina,… Até que vem um médico que me faz um toque que não foi de observação. Começa a magoar-me imenso e eu recuei, ele agarrou-me numa perna com uma mão e continuou com a outra. Quando ele acabou eu fiquei esvaída em sangue (ainda não tinha deitado uma gota). Fiquei chorar, a olhar para o sangue todo por baixo de mim sem reacção. Ele voltou atrás e disse-me para não me preocupar, que o sangramento se devia ao toque (!!!!). Ainda sem reacção para mais, pedi-lhe para me ajudar a vestir as cuecas ao que me respondeu que não valia a pena. Mandou mudar o resguardo por baixo de mim e segurar um penso com as pernas. As águas rebentaram alguns minutos depois.
A maca para me levarem para o internamento foi levada de volta. Eu já não ia sair dali.
Na hora seguinte assisti a um parto ali na sala de dilatação. Não sei porque é que o fizeram ali. A mãe foi maltratada por ter defecado durante o parto. Eu só chorava a pensar que a seguir era eu.
Perguntei a uma enfermeira porque é que eu não tinha levado a injecção de maturação pulmunar uma vez que a bebé ia nascer de 33 semanas. Ela foi perguntar a outra enfermeira que lhe respondeu: “Não sei, porque decidiram não dar. Essa andou a ler demais.”.
Pelas 12h chega o mau marido e deixaram-no entrar para a sala de dilatação a pedido especial da minha amiga. O parto continuou a desenrolar-se. Tive vontade de vomitar e pedi à enfermeira que me desse, depressa, um saco. E ela perguntou-me se eu a estava a mandar trabalhar depressa, eu ainda pedi desculpa e respondi que estava aflita. Hoje arrependo-me de lhe ter pedido desculpa e acho que ela merecia era que eu vomitasse para o chão. As outras parturientes que lá estavam na dilatação a assistir a isto também devem ter começado a entrar em pânico, só me levaram para a sala de parto uns 20 minutos antes de a bebé nascer, pelas 15h20.
Entretanto pedi para não me oferecerem mais a epidural, foi o mesmo que nada, estavam constantemente a perguntar-me se tinha a certeza.
Quando cheguei à sala de partos, estava à minha espera o médico do relatado toque. Eu não queria acreditar em tão pouca sorte! Eu não escondi o meu desagrado ao vê-lo e ele também não estava de boa vontade. Eu estava de cócoras na cama. Ele perguntou que posição era aquela e ordenou-me que me pusesse de barriga para cima. Eu pedi para não ter que ficar a passar o tempo de barriga para cima e ele respondeu-me que era a posição de nascer, agarrou-me numa perna e puxou-me para ficar deitada. Mandou a enfermeira fazer força a minha barriga. Eu empurrei-a e disse que quem paria era eu!
Nisto vem outra médica substituir aquele médico porque estávamos numa discussão pegada. Vi-a pôr a mão e perguntei-lhe se já sentia a cabeça da bebé. Ela riu-se e disse-me que já via o cabelo. Era o que eu precisava de ouvir!! A seguir a isto a minha filha nasceu em menos de nada. Chegaram-na perto de mim para lhe dar um beijinho e levaram-na porque estava com dificuldade respiratória.
A médica começou ao puxão à placenta e aos solavancos à minha barriga imediatamente após a bebé nascer. Ainda perguntei se ela não podia aguardar um pouco a ver se se soltava melhor ao que me respondeu que era mesmo assim e eu tinha andado a ler demais. A placenta lá saiu…
Por fim, esta médica perguntou ao 1º médico se ele ia dar pontos, ele olhou e disse que não era necessário, então ela própria se encarregou de me dar 4 pontos. (Afinal era preciso ou não?)
Passadas umas horas fui ver a minha filha aos cuidados intensivos da neonatologia. Disseram-me que nunca tinha entrado em sofrimento fetal mas estava com dificuldade respiratória devido à prematuridade. Tinha 1930gr, estava toda ligada e tinha o nariz inchado do ventilador. Tinha um aspecto muito diferente do que eu tinha imaginado ao longo da gravidez mas era a minha bebé e achei-a linda.
Ficou internada 19 dias. Chorei muito por querer pô-la de volta na minha barriga e não ter como.
Hoje, a bebé está bem. Eu fiquei com restos placentários.
Penso muito neste dia porque estou convicta de que a minha filha não tinha nascido naquele dia se não fosse o toque daquele médico. Gostava de perceber o motivo, mas não percebo. Assim como não sei porque é que não me deram a injecção de corticóides, etc… Pedi o meu processo clínico, tem muitas omissões, muitas rasuras, coisas por preencher e, curiosamente, não vem o apelido do tal médico.
Eu venho de uma família numerosa nas gerações que me antecedem. Ao longo da minha juventude sempre ouvi relatos de partos, que foram pouco ou nada intervencionados (porque assim era o hábito). Elas têm sempre um brilhozinho nos olhos e dizem que foram os dias mais felizes das vidas delas. Talvez por isto eu considero que fui com uma atitude realista para o meu parto mas nunca o receei.
Em contraste, o dia do nascimento da minha bebé foi dos dias em que me senti mais humilhada e desrespeitada em toda a minha vida.
Eu acredito na boa intenção das pessoas. Fiz um plano de parto em que não escrevi muito porque achei que escrever coisas como reduzir o nº de toques ao mínimo possível seria ofensivo para os profissionais que o lessem que, com certeza, não se divertem profundamente a cada toque que fazem por isso eu não tinha motivo para me preocupar com isso (pensava eu!). De qualquer forma, o meu plano de parto ficou sem efeito porque eu enviei-o na véspera de ir para a maternidade (o meu parto foi prematuro) pensando que o estava a enviar com antecedência. Enquanto eu lá estive e pedi algumas coisas ABSOLUTAMENTE NADA dos meus pedidos foi considerado e, curiosamente, quando eu recebi a resposta ao plano (já estava em casa com a minha bebé) foi-me respondido que todo o meu plano era possível.
Dia 23 de Setembro pelas 20h00 comentei com o meu marido que desconfiava que tinha uma ruptura na bolsa. Olhámos mil e uma vezes para as cuecas sem ter a certeza se seria suor ou se era mesmo uma ruptura. Liguei para a Saúde 24 e pelas 22h00 chegámos ao HGO. A médica das urgências fez-me uma ecografia e disse: "Ruptura de bolsa? O seu bebé está todo contente a nadar em tanto líquido! A bolsa não está rota." Entretanto, ia fazer-me um toque de observação e chamou uma colega: "Olha, afinal parece mesmo que tem uma ruptura, o que achas?" E lá concluíram que tinha mesmo Era pequenina e alta por isso do mal o menos... A médica já nem fez o toque porque disse que não queria mexer-me muito para não estimular o parto uma vez que eu estava de 33 semanas. Fez-me outra eco para ver se eu tinha dilatação e não tinha. Foi-me explicado que eu ia ser levada para o internamento das grávidas e iam manter-me deitadinha a antibiótico, já sabia que não tinha infecção (fizeram-me análises) mas tínhamos que prevenir. Fui ter com o meu marido, dei-lhe todos os meus pertences (como me disseram) e disse-lhe para voltar no dia seguinte à hora da visita. Mal ele se foi embora, a médica disse-me que iam colocar-me na sala de dilatação do bloco de partos, ligada ao CTG para fazer uma avaliação melhor antes de me porem no internamento. E lá fui eu para o bloco...
Passei lá a noite inteira. Pedi para comer mas recusaram-se a dar-me o que fosse. Eu sabia que estava com hipoglicémia porque foi um problema que me acompanhou toda a gravidez. Antes de saber que estava grávida já me levantava de noite com uma vontade "cega" de comer e a única noite da gravidez que passei em jejum foi precisamente aquela. Quando falei com a enfermeira sobre isto é que ela foi ver as análises e disse: "Realmente não pode estar assim." E pôs-me um soro mais glicosado. E se eu não lhe tivesse dito nada??? Entretanto fecharam a porta da sala para eu e outra senhora conseguirmos dormir mas começámos a congelar com o ar condicionado. As campainhas por cima das camas estavam avariadas. Como estávamos imobilizadas pelo soro e pelo CTG e com a porta fechada tivemos que ir gelando... Sem conseguir dormir (quem conseguiria?) pensei sobre os acontecimentos e invadiu-me uma profunda tristeza.
As horas foram passando e, pelas 8h da manhã chega uma amiga que é enfermeira noutra área do hospital e tinha andado à minha procura porque o meu marido disse-lhe que eu estava lá internada. “Queres que lhe telefone a dizer que estás no bloco de partos?” perguntou ela. Claro que queria, não tinha forma de o contactar. Ainda bem que ela telefonou…
Pelas 8h30 (após a mudança de turno) vem o médico chefe de equipa avaliar-me e disse-me que o CTG estava despreocupante e eu ia sair dali para o internamento. Eu perguntei se não ia tomar pequeno-almoço e ele ficou muito admirado por eu não ter comido e mandou que me fossem buscar comida. Comi tudinho mesmo sem me apetecer metade, com medo de não voltar a ter oportunidade.
Entretanto 3 ou 4 pessoas diferentes fizeram-me toques. Eu não disse nada. Sentia-me triste, desamparada, pequenina,… Até que vem um médico que me faz um toque que não foi de observação. Começa a magoar-me imenso e eu recuei, ele agarrou-me numa perna com uma mão e continuou com a outra. Quando ele acabou eu fiquei esvaída em sangue (ainda não tinha deitado uma gota). Fiquei chorar, a olhar para o sangue todo por baixo de mim sem reacção. Ele voltou atrás e disse-me para não me preocupar, que o sangramento se devia ao toque (!!!!). Ainda sem reacção para mais, pedi-lhe para me ajudar a vestir as cuecas ao que me respondeu que não valia a pena. Mandou mudar o resguardo por baixo de mim e segurar um penso com as pernas. As águas rebentaram alguns minutos depois.
A maca para me levarem para o internamento foi levada de volta. Eu já não ia sair dali.
Na hora seguinte assisti a um parto ali na sala de dilatação. Não sei porque é que o fizeram ali. A mãe foi maltratada por ter defecado durante o parto. Eu só chorava a pensar que a seguir era eu.
Perguntei a uma enfermeira porque é que eu não tinha levado a injecção de maturação pulmunar uma vez que a bebé ia nascer de 33 semanas. Ela foi perguntar a outra enfermeira que lhe respondeu: “Não sei, porque decidiram não dar. Essa andou a ler demais.”.
Pelas 12h chega o mau marido e deixaram-no entrar para a sala de dilatação a pedido especial da minha amiga. O parto continuou a desenrolar-se. Tive vontade de vomitar e pedi à enfermeira que me desse, depressa, um saco. E ela perguntou-me se eu a estava a mandar trabalhar depressa, eu ainda pedi desculpa e respondi que estava aflita. Hoje arrependo-me de lhe ter pedido desculpa e acho que ela merecia era que eu vomitasse para o chão. As outras parturientes que lá estavam na dilatação a assistir a isto também devem ter começado a entrar em pânico, só me levaram para a sala de parto uns 20 minutos antes de a bebé nascer, pelas 15h20.
Entretanto pedi para não me oferecerem mais a epidural, foi o mesmo que nada, estavam constantemente a perguntar-me se tinha a certeza.
Quando cheguei à sala de partos, estava à minha espera o médico do relatado toque. Eu não queria acreditar em tão pouca sorte! Eu não escondi o meu desagrado ao vê-lo e ele também não estava de boa vontade. Eu estava de cócoras na cama. Ele perguntou que posição era aquela e ordenou-me que me pusesse de barriga para cima. Eu pedi para não ter que ficar a passar o tempo de barriga para cima e ele respondeu-me que era a posição de nascer, agarrou-me numa perna e puxou-me para ficar deitada. Mandou a enfermeira fazer força a minha barriga. Eu empurrei-a e disse que quem paria era eu!
Nisto vem outra médica substituir aquele médico porque estávamos numa discussão pegada. Vi-a pôr a mão e perguntei-lhe se já sentia a cabeça da bebé. Ela riu-se e disse-me que já via o cabelo. Era o que eu precisava de ouvir!! A seguir a isto a minha filha nasceu em menos de nada. Chegaram-na perto de mim para lhe dar um beijinho e levaram-na porque estava com dificuldade respiratória.
A médica começou ao puxão à placenta e aos solavancos à minha barriga imediatamente após a bebé nascer. Ainda perguntei se ela não podia aguardar um pouco a ver se se soltava melhor ao que me respondeu que era mesmo assim e eu tinha andado a ler demais. A placenta lá saiu…
Por fim, esta médica perguntou ao 1º médico se ele ia dar pontos, ele olhou e disse que não era necessário, então ela própria se encarregou de me dar 4 pontos. (Afinal era preciso ou não?)
Passadas umas horas fui ver a minha filha aos cuidados intensivos da neonatologia. Disseram-me que nunca tinha entrado em sofrimento fetal mas estava com dificuldade respiratória devido à prematuridade. Tinha 1930gr, estava toda ligada e tinha o nariz inchado do ventilador. Tinha um aspecto muito diferente do que eu tinha imaginado ao longo da gravidez mas era a minha bebé e achei-a linda.
Ficou internada 19 dias. Chorei muito por querer pô-la de volta na minha barriga e não ter como.
Hoje, a bebé está bem. Eu fiquei com restos placentários.
Penso muito neste dia porque estou convicta de que a minha filha não tinha nascido naquele dia se não fosse o toque daquele médico. Gostava de perceber o motivo, mas não percebo. Assim como não sei porque é que não me deram a injecção de corticóides, etc… Pedi o meu processo clínico, tem muitas omissões, muitas rasuras, coisas por preencher e, curiosamente, não vem o apelido do tal médico.
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