É a minha vez de contar a minha história. No dia 19 de agosto deste ano juntei-me ao clube das que perderam um filho depois de uma interrupção médica da gravidez às 19 semanas e 5 dias.
Tudo começou no dia 16 ao fim da tarde. Nesse dia tinhamos regressado de férias. Tinhamos escolhido o nome da nossa filha na véspera e comprado a primeira "prenda" para ela nessa manhã. Fui à obstetra porque tinha uma consulta marcada. Vi a minha filha, tudo estava bem. Apaixonei-me pelas bochechas dela e vim para casa com a eco na mão. Lembro-me de me sentir a rebentar de felicidade nesse dia.
Umas horas depois tudo começou. Estava deitada na minha cama e comecei a sentir-me toda molhada. Fui para a casa de banho e continuava a perder líquido. Fui para o hospital. Vou tentar ser breve. Diagnóstico: ruptura de membranas. A minha bebé estava sem líquido. Entre este dia (16) e o dia da interrupção (19) não vou contar pormenores. Fiquei internada na unidade de grávidas de risco. Sofri horrores, foram os dias mais complicados da minha vida sem a menor das dúvidas. Tive que assinar um papel a pedir a interrupção da gravidez. Essa era a única opção, mesmo sabendo que a minha filha estava viva. Pouco antes da interrupção ainda a vi a mexer e o coração a bater.
Interromperam-me a gravidez com comprimidos (aos quais descobri ser alérgica). Depois da expulsão quase me esvaí em sangue. Levaram me de urgência para o bloco operatório, onde me fizeram uma curetagem. No dia seguinte de manhã tive que levar uma transfusão.
Porque terá acontecido tudo isto? Respostas mais concretas virão (ou não) com os resultados das análises que estão a ser feitas à bebé e à placenta mas em princípio terá sido uma infecção que tive no fim de julho (pielonefrite) que terá causado uma susceptibilidade grande nas membranas, levando-as a rebentar precocemente.
Sinto tudo isto como uma grande maldade que me aconteceu. Sempre soube que no primeiro trimestre podia abortar e nas 2 gravidezes que tive fui muito cautelosa em partilhar a notícia da gravidez por esse motivo. Confesso que não esperava ser apanhada por uma desgraça destas exactamente no meio da gravidez. E essa é a minha maior dor e também o meu maior receio para o futuro. Quero muito voltar a engravidar assim que seja possível mas também tenho muito medo. Não sei como vou conseguir lidar com a ansiedade... Se já sou ansiosa por mim, a partir do momento em que me acontece uma coisa destas, como vou poder relaxar numa gravidez futura?
Tenho tentado afastar da minha cabeça os pormenores de tudo o que passei. Tenho tentado não ouvir as vozes cá dentro que me lembram os sonhos que tinha para esta filha. Custa muito, muito mesmo e não está a ser fácil. É curioso que à medida que o tempo passa a minha sensação é de que começa a vir mais à superfície a parte emocional. Talvez isso tenha a ver com as feridas físicas estarem quase saradas. Ou então são as minhas forças a acabarem, não sei.
Para apaziguar os meus medos, gostava que partilhassem comigo histórias parecidas com a minha que vos tenham acontecido e já agora com final feliz, isto é, pessoas que depois de uma coisa destas tenham tido outros filhos sem problemas. Eu quero muito acreditar que vai ser o meu caso. E isso ajuda-me a relativizar um pouco esta minha perda.
Bjs
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