Minhas queridas, não posso dizer que este seja propriamente um relato de parto; será mais uma "carta" que mais tarde darei a conhecer ao meu filho e que, por ora, partilho com vocês.
"Conheci-te no dia 7 de Janeiro de 2010. Não te vi a cara, nem senti o teu cheiro, nem tão pouco sabia se eras “um” ou “uma” mas foi nesse dia que soube que ias mudar a minha vida. O teste de gravidez foi apenas uma confirmação; no meu íntimo já te sentia a ganhar vida no meu ventre. Fiquei tão feliz!
Durante 40 semanas, vi o meu corpo mudar, a adaptar-se para poder albergar Vida – a tua Vida! Sentia a tua força e vitalidade nos pontapés que me mantinham acordada, que faziam o teu Pai rir-se quando fazias a barriga ondular ao sabor dos teus movimentos.
Assim, foi com crescente ansiedade que vi a nossa ligação chegar ao ponto culminante: aquele em que, finalmente, te ia ter nos braços. Não vou dizer que foi um momento apenas de alegria. Senti tristeza e vazio quando pensei que, a partir desse momento, não eras mais só meu, eras do Mundo também. Só que o vazio foi rapidamente substituido pelo amor de poder ser tua Mãe, de ser parte privilegiada no teu crescimento, na tua vida. Porque eu também sou Filha e sei o quanto a minha Mãe é importante na minha vida.
Finalmente, chegou o dia 17 de Setembro de 2010. As contracções chegaram e com elas, o nervoso miudinho. A hora estava aí!!! No hospital, de manhã, a dr.ª que te espreitou disse que estaria para os próximos dias... Fiquei tão nervosa! Eu a pensar que era já e afinal ainda tinha de esperar mais... Então vim embora e socorri-me nas tias PB para ganhar coragem. As contracções continuavam e apertavam cada vez mais! E eu convencida que ainda demorarias dias a vir... Até que a ritmicidade tomou conta de mim. Tu mexias bem e eu podia sentir a tua força a ser passada para mim. Tu, o meu pequeno guerreiro, a tomares conta da Mãe!
Por volta das 17h, abandonei-me ao sabor do meu corpo. Ora sentada na bola de pilates ora na posição de gata assanhada, fui controlando a dor, apenas desconfiando que estarias para mais breve do que eu pensava. Às 20h, algo esquisito aconteceu: uma mancha de liquido... Era tão pequenina que eu convenci-me que era apenas incontinência. Às 22h, já não deu para confundir! O líquido era o anúncio que eu precisava para ir para o hospital. Até nisso foste um guerreiro! Esperaste a hora de saída do trabalho do Pai para avisares que estava na hora!
Entre o banho, a viagem e ser atendida no hospital passaram-se 1h30m. É aí que a Dr.ª me diz: “Sim, a bolsa rebentou e está com 3 para 4 cms de dilatação!”. Felicidade. Medo. Incredulidade. Mais felicidade. Resolvi pedir epidural. Estava a sentir-me demasiado fraca e, de alguma maneira, pressenti que as forças me iam fazer falta.
Na companhia do Pai, que foi o apoio que nós precisamos, e após a epidural, a dilatação foi prosseguindo. Sentia as contracções mas menos fortes. Apesar dos fios, tubos, luz e confusão... Não me sentia desconfortável! Sentia apenas que a vida ia mudar. 1h depois, chega a novidade: “esta senhora tem 8 cms de dilatação, tem de ir para uma sala de partos JÁ!”. Acho que até fiquei tonta com a velocidade com tu estavas decidido a vir! ?
Chegamos à sala onde te conheci, acompanhada do pai. Sentia já vontade de fazer força, como se fosse uma espécie de pressão... Mas tu estavas assustado e subiste para pertinho do meu coração. Aí, trabalhamos em conjunto: eu, tu e o Pai. Eu a fazer força, tu a aguentares-te firme e o Pai a relembrar-me de que eu era capaz de te trazer a este Mundo. Não te vou mentir: pensei muitas vezes que não ia aguentar mais. Cheguei a temer por nós os dois... Só mais tarde percebi o que estava a acontecer; tinha-me esquecido de me abandonar ao instinto! Ouvi o meu corpo e ouvi o teu coração bater com força, com vitalidade, com vontade de nos conhecer. A força veio e supliquei ao teu Pai para chamar a parteira. Mais uma vez, fiquei no caminho de alguém que me soube guiar. Com palavras de incentivo e gestos firmes ouvi “Mãe, mais uma força e o seu filho nasce!!!”. E assim foi: às 3h35m da madrugada de 18 de Setembro de 2010 dei o último grito do trabalho de parto e tu deste o primeiro grito de guerra. De repente, a música de fundo fez-se sentir novamente e tive vontade de chorar. Foste colocado na minha barriga ao som de “Hallelujah”. Ao som do riso do teu Pai. Ao som das palavras meigas da Enfermeira Parteira Maria José.
Com todas as imperfeições e inesperados do trabalho de parto, foi o nosso momento perfeito. Muitas pessoas contribuiram para isso: acima de tudo, o teu Pai que esteve sempre lá connosco, que me apoiou e acarinhou; sabias que foi ele quem cortou o último elo físico entre nós? A Enfermeira Clara, que me preparou para aquele momento tão fantástico e que te veio visitar a casa, zelando sempre pela tua amamentação e bem-estar... A Enfermeira Parteira Maria José, pelo respeito, força e conhecimento demonstrados e dispensados connosco. Pelas tias PB que me aguentaram em casa; sabes, eu tenho certeza que me ia descontrolar se não as tivesse!
Um dia vou-te mostrar isto. Provavelmente só me irás entender quando nascer um filho teu; eu sei que só entendi o amor da minha Mãe por mim quando te segurei nos braços. Mas um dia, vais ler isto e sorrir porque a verdade é só uma: não terás ninguém no Mundo que te ame como eu."
"Conheci-te no dia 7 de Janeiro de 2010. Não te vi a cara, nem senti o teu cheiro, nem tão pouco sabia se eras “um” ou “uma” mas foi nesse dia que soube que ias mudar a minha vida. O teste de gravidez foi apenas uma confirmação; no meu íntimo já te sentia a ganhar vida no meu ventre. Fiquei tão feliz!
Durante 40 semanas, vi o meu corpo mudar, a adaptar-se para poder albergar Vida – a tua Vida! Sentia a tua força e vitalidade nos pontapés que me mantinham acordada, que faziam o teu Pai rir-se quando fazias a barriga ondular ao sabor dos teus movimentos.
Assim, foi com crescente ansiedade que vi a nossa ligação chegar ao ponto culminante: aquele em que, finalmente, te ia ter nos braços. Não vou dizer que foi um momento apenas de alegria. Senti tristeza e vazio quando pensei que, a partir desse momento, não eras mais só meu, eras do Mundo também. Só que o vazio foi rapidamente substituido pelo amor de poder ser tua Mãe, de ser parte privilegiada no teu crescimento, na tua vida. Porque eu também sou Filha e sei o quanto a minha Mãe é importante na minha vida.
Finalmente, chegou o dia 17 de Setembro de 2010. As contracções chegaram e com elas, o nervoso miudinho. A hora estava aí!!! No hospital, de manhã, a dr.ª que te espreitou disse que estaria para os próximos dias... Fiquei tão nervosa! Eu a pensar que era já e afinal ainda tinha de esperar mais... Então vim embora e socorri-me nas tias PB para ganhar coragem. As contracções continuavam e apertavam cada vez mais! E eu convencida que ainda demorarias dias a vir... Até que a ritmicidade tomou conta de mim. Tu mexias bem e eu podia sentir a tua força a ser passada para mim. Tu, o meu pequeno guerreiro, a tomares conta da Mãe!
Por volta das 17h, abandonei-me ao sabor do meu corpo. Ora sentada na bola de pilates ora na posição de gata assanhada, fui controlando a dor, apenas desconfiando que estarias para mais breve do que eu pensava. Às 20h, algo esquisito aconteceu: uma mancha de liquido... Era tão pequenina que eu convenci-me que era apenas incontinência. Às 22h, já não deu para confundir! O líquido era o anúncio que eu precisava para ir para o hospital. Até nisso foste um guerreiro! Esperaste a hora de saída do trabalho do Pai para avisares que estava na hora!
Entre o banho, a viagem e ser atendida no hospital passaram-se 1h30m. É aí que a Dr.ª me diz: “Sim, a bolsa rebentou e está com 3 para 4 cms de dilatação!”. Felicidade. Medo. Incredulidade. Mais felicidade. Resolvi pedir epidural. Estava a sentir-me demasiado fraca e, de alguma maneira, pressenti que as forças me iam fazer falta.
Na companhia do Pai, que foi o apoio que nós precisamos, e após a epidural, a dilatação foi prosseguindo. Sentia as contracções mas menos fortes. Apesar dos fios, tubos, luz e confusão... Não me sentia desconfortável! Sentia apenas que a vida ia mudar. 1h depois, chega a novidade: “esta senhora tem 8 cms de dilatação, tem de ir para uma sala de partos JÁ!”. Acho que até fiquei tonta com a velocidade com tu estavas decidido a vir! ?
Chegamos à sala onde te conheci, acompanhada do pai. Sentia já vontade de fazer força, como se fosse uma espécie de pressão... Mas tu estavas assustado e subiste para pertinho do meu coração. Aí, trabalhamos em conjunto: eu, tu e o Pai. Eu a fazer força, tu a aguentares-te firme e o Pai a relembrar-me de que eu era capaz de te trazer a este Mundo. Não te vou mentir: pensei muitas vezes que não ia aguentar mais. Cheguei a temer por nós os dois... Só mais tarde percebi o que estava a acontecer; tinha-me esquecido de me abandonar ao instinto! Ouvi o meu corpo e ouvi o teu coração bater com força, com vitalidade, com vontade de nos conhecer. A força veio e supliquei ao teu Pai para chamar a parteira. Mais uma vez, fiquei no caminho de alguém que me soube guiar. Com palavras de incentivo e gestos firmes ouvi “Mãe, mais uma força e o seu filho nasce!!!”. E assim foi: às 3h35m da madrugada de 18 de Setembro de 2010 dei o último grito do trabalho de parto e tu deste o primeiro grito de guerra. De repente, a música de fundo fez-se sentir novamente e tive vontade de chorar. Foste colocado na minha barriga ao som de “Hallelujah”. Ao som do riso do teu Pai. Ao som das palavras meigas da Enfermeira Parteira Maria José.
Com todas as imperfeições e inesperados do trabalho de parto, foi o nosso momento perfeito. Muitas pessoas contribuiram para isso: acima de tudo, o teu Pai que esteve sempre lá connosco, que me apoiou e acarinhou; sabias que foi ele quem cortou o último elo físico entre nós? A Enfermeira Clara, que me preparou para aquele momento tão fantástico e que te veio visitar a casa, zelando sempre pela tua amamentação e bem-estar... A Enfermeira Parteira Maria José, pelo respeito, força e conhecimento demonstrados e dispensados connosco. Pelas tias PB que me aguentaram em casa; sabes, eu tenho certeza que me ia descontrolar se não as tivesse!
Um dia vou-te mostrar isto. Provavelmente só me irás entender quando nascer um filho teu; eu sei que só entendi o amor da minha Mãe por mim quando te segurei nos braços. Mas um dia, vais ler isto e sorrir porque a verdade é só uma: não terás ninguém no Mundo que te ame como eu."
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