A pedido de varias familias aqui esta o (longo) relato do fim da minha gravidez, nascimento do Bruno e dos dias que se seguiram.
Então eu estava grávida de cerca de 30 semanas quando fiz a minha ultima ecografia em Portugal, nas ferias de Natal. A médica assustou-me tanto que fui fazer outra a seguir. Segundo ela, o bebe estava com baixo peso, pouco liquido amniótico e com a placenta comprometida. Ainda por cima foi detectada uma forte possibilidade de um sopro cardíaco e mantinha-se dilatação renal... Aconselhou-me a repousar muito e ser vigiada. O segundo medico desvalorizou e disse que não era nada alarmante e foi nesse espírito de confusão que voltei para Espanha. O meu medico de ca não ligou nenhuma e disse que estava tudo bem.
Por precaução tive uma conversa com o chefe expliquei-lhe a situação e ele pôs-me a vontade para trabalhar essencialmente desde casa e foi assim que a partir de Janeiro com 30 semanas fiquei em repouso relativo. So ia ao departamento 1 vez por semana.
As 32 semanas tive a eco do terceiro trimestre aqui e mostrei-lhe os relatórios de Portugal. Ela confirmou os problemas (o bebe estava no percentil 19 e o liquido no índice 7-8, limite inferior do normal) e mandou-me repetir a eco em 2 semanas. Quando fui repetir o percentil tinha descido para 17 o que não era mau por significava que bebe tinha crescido mas o liquido desceu para 4-5 um nivel preocupante. Era uma sexta feira e fiquei referenciada para consulta de alto risco na segunda seguinte.
Aproveitei o fim-de-semana para acabar os preparativos e chorar muito. Tinha um mau pressentimento... Não disse nada a ninguém mas deixei a mala pronta... Na segunda fui a consulta, repetiram eco e internaram-me logo. Não acreditavam que não estava a perder liquido... pois mas eu não estava! Fizeram-me o cardio e estava tudo óptimo. So isso me salvou de ir logo para o bloco! Deixaram-me almoçar e fiquei com a cesariana marcada par o dia seguinte porque o bebe estava sentado e não me provocavam assim o parto. O marido veio buscar a mala e telefonei ao meu chefe que apareceu logo la! Falou com médicos que conhecia, consolou-me enfim, foi incansável! MAS eu estava preocupadíssima... estava grávida de 35 semanas e tinha a percepção de que aquilo era uma precipitação e que podiam e deviam esperar. Deu-me vontade de fugir, largar tudo e vir para casa, para Portugal...
Fui operada no dia seguinte e o Bruno nasceu as 9:45 do dia 12 de Fevereiro, com 2200 (mais 200 gramas que o previsto) e apgar 9. Não pude ver o meu filho porque o levaram logo mas sosseguei porque ele chorou logo. 10 min depois a enfermeira da pediatria fez questão de mo vir mostrar para desagrado da anestesista que a queria fora dali. A primeira imagem que tenho do meu filho e de um cara redondinha e rosada no meio de um embrulho enorme de mantas que me foi permitido olhar por 30 segundos. Disseram-me que afinal estava tudo bem e que ele ia para neonatologia para não arrefecer e subiria logo comigo para o quarto.
Aparentemente a cirurgia correu toda bem, apesar de não terem conseguido encontrar um quisto que tenho que era suposto remover e ter acabado com uma anemia tremenda. Aquela hora no recobro custou imenso a passar porque queria estar com o meu filho. Não sabia se o meu marido o tinha visto e estava com ele, não sabia nada. Quando fui para o quarto meu marido estava a minha espera a porta do elevador e disse que o tinha visto de relance. Eu so perguntava pelo meu filho e ninguém me respondia. Entramos no quarto e entra uma enfermeira a procura do pai do bebe e saíram todos. Eu pensei que o tinham chamado para o ir buscar... Santa ingenuidade.
Fiquei ali. Uma hora, sozinha sem me conseguir mexer ainda da anestesia, sem ninguém a quem perguntar nada sem noticias.... Foi horrível! A pior sensação da minha vida. Sentia-me vazia, faltava-me o meu filho, faltava-me tudo! Eu queria ve-lo, tocar-lhe. Queria fazer o que tantas vezes me repetiram que era importante abraça-lo, sentir-mos o cheiro um do outro, alimenta-lo... e nada so os minutos a passarem...
Quando o meu marido chegou com os olhos em lágrimas eu estava prestes a sair da cama! Ele explicou-me que o bebe estava com dificuldades respiratorias e tinha de ficar na incubadora. E foi atrás de alguém que me pudesse levar la abaixo... Em vão. Ninguém me deixava sair da cama. Eu soluçava e gritava descontrolada e so queria o meu bebe. Tentei sair da cama, ja era gente a segurar-me, falavam em calmantes, mas não me davam solução. E eu ja não queria saber de nada so ver o meu filho. O meu marido foi tirar-lhe uma foto para eu ver. A única porque era proibido tirar fotos aos bebe na neonatologia. Mantive ate ao fim do dia a esperança de me deixarem ir ver o meu filho, mas não. Nem
. Entretanto o Bruno foi transferido para os cuidados intensivos e o meu marido era quem andava a tratar dos papeis e a levar processos. Os médicos nem sequer vinham falar comigo. Foi preciso o meu marido pedir varias vezes para as 11 da noite uma pediatra vir ao serviço explicar-me o que se passava como meu filho! Mantiveram.me ali ate ao dia seguinte. Foi um dia horrível, o pior da minha vida.
So consegui que me deixassem sair para ver o meu bebe ao meio dia do dia seguinte. Estava na incubadora com CPAP, e todo monotorizado e a espera de melhorias. Tinha imaturidade pulmonar pela idade gestacional e pelo facto de não me terem dado a medicação para a maturação pulmonar. Não lhe faziam nada so esperavam... Na UCI so podíamos entrar 2 vezes por dias por 1 hora e assim nos primeiros dias de vida do meu filho foram um espera tremenda pelos minutos em que podia estar com ele. E estiveram 36 horas a espera ate o começarem a tratar com surfactante. So o começaram a alimentar via soro ao fim de 72 horas. E quando finalmente o trataram ele começou a melhorar. Com 4 dias de vida tiram o CAP e no dia seguinte pode vir ao meu colo e passou a ser alimentado com sonda. Pelo meio fez fototerapia e antibiótico (sem nunca ter tido sinais de infecçao). E eu tive alta um dia antes do previsto (queriam que eu la estivesse 5 noites)
E depois voltamos ao mesmo: esperar. Ninguém dizia ero de que. O relatório medico 1 vez ao dia dizi que estava tudo bem agora e em breve passaria para a neonatologia de novo. Mas não nos diziam o que faltava... Foram mais 3 dias a agora em casa a espera de poder ve-lo. Finalmente passou para os cuidado intermédios e ja no berço. E aqui podíamos entrar mais vezes: 0-1, 3-4, 6-7, 9-10, 12-13, 15-16, 18-19, 20-22. Eu so ia durante o dia e mesmo assim estava exausta. Porque uma vez la ou vinha para casa aa cada visita ou ficava as 2 horas no meio no corredor a olhar para aporta fechada. Estava como um anemia tremenda, ate os 2 kg que ele pesava me custavam a segurara. Não conseguia dormir e so chorava.
E foi a mudança. A pediatra a primeira vez que o viu (no dia seguinte) fartou-se de protestar por estar um bebe com tao bom peso e tantos dias a ser alimentado por sonda. E foi logo na hora ja nem deixou porem aquela mamada na sonda, foi logo de biberão. E ate queria que fossemos nos a dar-lhe a enfermeira e que pediu para ser ela porque achava que ia ser difícil. E foi, coitadinho, não sabia mamar! Mas os biberões seguintes ja demos nos! E então o meu marido lembrou-se de perguntar se como ele mamava podia experimentar-se dar o peito e a enfermeira disse que sim. E foi assim que ao 11º dia de vida, finalmente pude amamentar o meu filho.
Foi tão bom! E dos momentos em que tenho mais pena de não ter fotos, mas como era proibido a única foto que tenho desses dias foi a tal primeira tirada por especial favor. Foi numa sexta feira e a pediatra deu ordem para lhe tirarem o resto das tralhas durante o fim de semana a manter-se tudo assim. E que o podiamos levar para casa no inicio da semana seguinte...
Eu não queria ter muitas esperanças mas na segunda-feira seguinte apanhamos a pediatra a meio da visita medica.... E ela virou-se para nos e disse, pronto logo ja podem leva-lo!!!! E ao fim de quase 2 semanas podemos finalmente ter o nosso filho todo para nos!
Se eu soubesse o que sei hoje tinha-me escapulido para Portugal, ou melhor tinha ficado por ai logo no Natal e as coisas podiam ter sido diferentes. A política por ai seria internarem-me sob vigilância para tentar completar as 37 semanas. Se mesmo assim o meu filho tivesse ficado na incubadora eu sei que ao fim de algumas horas poderia estar ao lado dele o tempo que me apetecesse! Sinto que me roubaram o final da minha gravidez e o nascimento do meu filho. Sinto que fomos impedidos eu e o meu filho de ter uma relação próxima logo no início desnecessariamente e que nada fizeram para a promover a relação mãe filho ou a amamentação. Sinto que o tratamento que dão aqui as mães é desumano. Enfim, não vale a pena chorar agora, mas filhos aqui em Espanha nunca mais.
Beijinhos e desculpem o testamento.
Rute
Então eu estava grávida de cerca de 30 semanas quando fiz a minha ultima ecografia em Portugal, nas ferias de Natal. A médica assustou-me tanto que fui fazer outra a seguir. Segundo ela, o bebe estava com baixo peso, pouco liquido amniótico e com a placenta comprometida. Ainda por cima foi detectada uma forte possibilidade de um sopro cardíaco e mantinha-se dilatação renal... Aconselhou-me a repousar muito e ser vigiada. O segundo medico desvalorizou e disse que não era nada alarmante e foi nesse espírito de confusão que voltei para Espanha. O meu medico de ca não ligou nenhuma e disse que estava tudo bem.
Por precaução tive uma conversa com o chefe expliquei-lhe a situação e ele pôs-me a vontade para trabalhar essencialmente desde casa e foi assim que a partir de Janeiro com 30 semanas fiquei em repouso relativo. So ia ao departamento 1 vez por semana.
As 32 semanas tive a eco do terceiro trimestre aqui e mostrei-lhe os relatórios de Portugal. Ela confirmou os problemas (o bebe estava no percentil 19 e o liquido no índice 7-8, limite inferior do normal) e mandou-me repetir a eco em 2 semanas. Quando fui repetir o percentil tinha descido para 17 o que não era mau por significava que bebe tinha crescido mas o liquido desceu para 4-5 um nivel preocupante. Era uma sexta feira e fiquei referenciada para consulta de alto risco na segunda seguinte.
Aproveitei o fim-de-semana para acabar os preparativos e chorar muito. Tinha um mau pressentimento... Não disse nada a ninguém mas deixei a mala pronta... Na segunda fui a consulta, repetiram eco e internaram-me logo. Não acreditavam que não estava a perder liquido... pois mas eu não estava! Fizeram-me o cardio e estava tudo óptimo. So isso me salvou de ir logo para o bloco! Deixaram-me almoçar e fiquei com a cesariana marcada par o dia seguinte porque o bebe estava sentado e não me provocavam assim o parto. O marido veio buscar a mala e telefonei ao meu chefe que apareceu logo la! Falou com médicos que conhecia, consolou-me enfim, foi incansável! MAS eu estava preocupadíssima... estava grávida de 35 semanas e tinha a percepção de que aquilo era uma precipitação e que podiam e deviam esperar. Deu-me vontade de fugir, largar tudo e vir para casa, para Portugal...
Fui operada no dia seguinte e o Bruno nasceu as 9:45 do dia 12 de Fevereiro, com 2200 (mais 200 gramas que o previsto) e apgar 9. Não pude ver o meu filho porque o levaram logo mas sosseguei porque ele chorou logo. 10 min depois a enfermeira da pediatria fez questão de mo vir mostrar para desagrado da anestesista que a queria fora dali. A primeira imagem que tenho do meu filho e de um cara redondinha e rosada no meio de um embrulho enorme de mantas que me foi permitido olhar por 30 segundos. Disseram-me que afinal estava tudo bem e que ele ia para neonatologia para não arrefecer e subiria logo comigo para o quarto.
Aparentemente a cirurgia correu toda bem, apesar de não terem conseguido encontrar um quisto que tenho que era suposto remover e ter acabado com uma anemia tremenda. Aquela hora no recobro custou imenso a passar porque queria estar com o meu filho. Não sabia se o meu marido o tinha visto e estava com ele, não sabia nada. Quando fui para o quarto meu marido estava a minha espera a porta do elevador e disse que o tinha visto de relance. Eu so perguntava pelo meu filho e ninguém me respondia. Entramos no quarto e entra uma enfermeira a procura do pai do bebe e saíram todos. Eu pensei que o tinham chamado para o ir buscar... Santa ingenuidade.
Fiquei ali. Uma hora, sozinha sem me conseguir mexer ainda da anestesia, sem ninguém a quem perguntar nada sem noticias.... Foi horrível! A pior sensação da minha vida. Sentia-me vazia, faltava-me o meu filho, faltava-me tudo! Eu queria ve-lo, tocar-lhe. Queria fazer o que tantas vezes me repetiram que era importante abraça-lo, sentir-mos o cheiro um do outro, alimenta-lo... e nada so os minutos a passarem...
Quando o meu marido chegou com os olhos em lágrimas eu estava prestes a sair da cama! Ele explicou-me que o bebe estava com dificuldades respiratorias e tinha de ficar na incubadora. E foi atrás de alguém que me pudesse levar la abaixo... Em vão. Ninguém me deixava sair da cama. Eu soluçava e gritava descontrolada e so queria o meu bebe. Tentei sair da cama, ja era gente a segurar-me, falavam em calmantes, mas não me davam solução. E eu ja não queria saber de nada so ver o meu filho. O meu marido foi tirar-lhe uma foto para eu ver. A única porque era proibido tirar fotos aos bebe na neonatologia. Mantive ate ao fim do dia a esperança de me deixarem ir ver o meu filho, mas não. Nem
. Entretanto o Bruno foi transferido para os cuidados intensivos e o meu marido era quem andava a tratar dos papeis e a levar processos. Os médicos nem sequer vinham falar comigo. Foi preciso o meu marido pedir varias vezes para as 11 da noite uma pediatra vir ao serviço explicar-me o que se passava como meu filho! Mantiveram.me ali ate ao dia seguinte. Foi um dia horrível, o pior da minha vida.
So consegui que me deixassem sair para ver o meu bebe ao meio dia do dia seguinte. Estava na incubadora com CPAP, e todo monotorizado e a espera de melhorias. Tinha imaturidade pulmonar pela idade gestacional e pelo facto de não me terem dado a medicação para a maturação pulmonar. Não lhe faziam nada so esperavam... Na UCI so podíamos entrar 2 vezes por dias por 1 hora e assim nos primeiros dias de vida do meu filho foram um espera tremenda pelos minutos em que podia estar com ele. E estiveram 36 horas a espera ate o começarem a tratar com surfactante. So o começaram a alimentar via soro ao fim de 72 horas. E quando finalmente o trataram ele começou a melhorar. Com 4 dias de vida tiram o CAP e no dia seguinte pode vir ao meu colo e passou a ser alimentado com sonda. Pelo meio fez fototerapia e antibiótico (sem nunca ter tido sinais de infecçao). E eu tive alta um dia antes do previsto (queriam que eu la estivesse 5 noites)
E depois voltamos ao mesmo: esperar. Ninguém dizia ero de que. O relatório medico 1 vez ao dia dizi que estava tudo bem agora e em breve passaria para a neonatologia de novo. Mas não nos diziam o que faltava... Foram mais 3 dias a agora em casa a espera de poder ve-lo. Finalmente passou para os cuidado intermédios e ja no berço. E aqui podíamos entrar mais vezes: 0-1, 3-4, 6-7, 9-10, 12-13, 15-16, 18-19, 20-22. Eu so ia durante o dia e mesmo assim estava exausta. Porque uma vez la ou vinha para casa aa cada visita ou ficava as 2 horas no meio no corredor a olhar para aporta fechada. Estava como um anemia tremenda, ate os 2 kg que ele pesava me custavam a segurara. Não conseguia dormir e so chorava.
E foi a mudança. A pediatra a primeira vez que o viu (no dia seguinte) fartou-se de protestar por estar um bebe com tao bom peso e tantos dias a ser alimentado por sonda. E foi logo na hora ja nem deixou porem aquela mamada na sonda, foi logo de biberão. E ate queria que fossemos nos a dar-lhe a enfermeira e que pediu para ser ela porque achava que ia ser difícil. E foi, coitadinho, não sabia mamar! Mas os biberões seguintes ja demos nos! E então o meu marido lembrou-se de perguntar se como ele mamava podia experimentar-se dar o peito e a enfermeira disse que sim. E foi assim que ao 11º dia de vida, finalmente pude amamentar o meu filho.
Foi tão bom! E dos momentos em que tenho mais pena de não ter fotos, mas como era proibido a única foto que tenho desses dias foi a tal primeira tirada por especial favor. Foi numa sexta feira e a pediatra deu ordem para lhe tirarem o resto das tralhas durante o fim de semana a manter-se tudo assim. E que o podiamos levar para casa no inicio da semana seguinte...
Eu não queria ter muitas esperanças mas na segunda-feira seguinte apanhamos a pediatra a meio da visita medica.... E ela virou-se para nos e disse, pronto logo ja podem leva-lo!!!! E ao fim de quase 2 semanas podemos finalmente ter o nosso filho todo para nos!
Se eu soubesse o que sei hoje tinha-me escapulido para Portugal, ou melhor tinha ficado por ai logo no Natal e as coisas podiam ter sido diferentes. A política por ai seria internarem-me sob vigilância para tentar completar as 37 semanas. Se mesmo assim o meu filho tivesse ficado na incubadora eu sei que ao fim de algumas horas poderia estar ao lado dele o tempo que me apetecesse! Sinto que me roubaram o final da minha gravidez e o nascimento do meu filho. Sinto que fomos impedidos eu e o meu filho de ter uma relação próxima logo no início desnecessariamente e que nada fizeram para a promover a relação mãe filho ou a amamentação. Sinto que o tratamento que dão aqui as mães é desumano. Enfim, não vale a pena chorar agora, mas filhos aqui em Espanha nunca mais.
Beijinhos e desculpem o testamento.
Rute
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