Li o artigo de um fôlego. Esplêndido! Em poucas palavras, desconstrói o dilema que por vezes sentimos perante um prato meio cheio: “Será que o nosso filho comeu o suficiente? Será que não poderia ter comido mais um colher? Só mais uma? Uma assim pequenina?”.
Pamela Cytrynbaum, uma mãe como todas nós, com vitórias e receios, escreve no portal Psychology Today (http://www.psychologytoday.com/blog/because-im-the-mom) sobre a Tirania do Prato Limpo. Isto é, sobre a quase-obsessão de alguns pais em que os filhos comam tudo o que está no prato. Mesmo que não lhes apeteça. Mesmo que, para comerem tudo, haja caras feias à mesa.
Eis um excerto de uma carta que esta mãe juntou à lancheira de Leah, a sua filha:
“Caro (professor, auxiliar, alguém com conhecimento de causa): obrigada por cuidarem tão bem da Leah. Aqui está o seu lanche. A regra em nossa casa é a de que é a Leah quem decide quanto é que ela quer comer. Hoje a Leah disse-me que ao lanche lhe pediram para ela comer tudo o que estava na lancheira. Ora, tendo em conta os estudos mais recentes sobre os hábitos alimentares saudáveis nas crianças, nós queremos que a Leah ouça o seu corpo e decida quando parar quando estiver saciada. Forçá-la a comer é algo que nós não aceitamos. Se ela regressar a casa com uma lancheira meia cheia, tudo bem, não há qualquer problema.
Obrigada por nos ajudarem a garantir uma Leah saudável e feliz!
Mãe da Leah.”
Pessoalmente, tive oportunidade de ler os conhecimentos de dois pediatras que eu considero excepcionais: o Dr Berry Brazelton, nos EUA, e o Dr Mário Cordeiro, em Portugal. Mesmo antes da Joana nascer interiorizei a ideia de que as crianças não devem ser forçadas a comer, mesmo que nós pensemos que elas pouco ou nada comeram. Porquê? Porque o forçar vai necessariamente conduzir a caras feias. A um clima de refeição tenso, nada agradável. E o que é que sucederá nas refeições subsequentes? A criança irá encará-las como momentos negativos e, aí sim, irá oscilar entre dois extremos: ou continua a comer pouco (porque, simplesmente, o ambiente à mesa não propicia ou apetite) ou então vai comer para além do seu apetite, receando represálias
por parte dos pais, os seus modelos educativos por excelência. Num oposto ou noutro, a criança irá celebrar um casamento pouco saudável com a comida. E que frutos nascerão desse casamento no futuro? Distúrbios alimentares (anorexia, bulimia, obesidade infantil). Ausência de auto-estima (“Só gostarão de mim se eu comer tudo...”). Como diz a mãe da Leah, a comida não é moeda de troca. Nem a palavra “dieta” significa restrição. Dieta significa “o que cada um come”, na proporção saudável versus não saudável.
Qualquer pai (leia-se pai e mãe) se preocupa quando o filho deixa mais comida no prato do que é habitual. Quando nota que o filho tem pouco apetite. Seja porque está doente, porque foi às vacinas, porque lhe está a nascer um dente, ou por qualquer outra razão. Tendemos a associar o apetite a algo positivo (“Ele comeu muito bem!”) e não negativo (“Ele hoje não está a comer nada...assim não pode ser...”). Precisamente por isso raramente nos questionamos: “Se o nosso filho comeu menos naquele dia é porque, pura e simplesmente, já estava saciado”.
O facto de, durante a gravidez da Joana, ter lido em inúmeras fontes de que a criança não deverá ser forçada a comer não quer dizer que eu não vacilasse. Claro que sim. Claro que houve momentos em que quis que a Joana comesse mais. Nomeadamente quando, aos nove meses, ela teve uma gastroenterite. A recuperação foi lenta mas a pediatra alertou-me para respeitar o ritmo dela. Caso contrário o seu estômago rejeitaria a porção que estivesse a mais. Umas vezes seguia à risca o que a pediatra me dizia. “Sim, apenas 60ml de leite”. Mas, por vezes, não resistia e tentava mais: “Vou tentar os 90ml, talvez...”. E a Joana vomitava...tinha que regressar à estaca zero. Começar de novo. Sem “experiências”. Degrau a degrau. Penso que esta é a melhor contra-prova que ilustra a Tirania do Prato Limpo e que, no fundo, mais me ensinou sobre a alimentação infantil e o saber respeitar o apetite individual. Mais tarde, quando a Joana começou a frequentar a creche e diminuiu de percentil no peso, resolvi fazer eu mesma as refeições dela em casa para ela levar. Durante poucos meses assim foi. Até ela recuperar o seu peso. A partir daqui, sei que quando a Joana me diz “Iá tá” ou “Naum” quando já não quer comer mais, é porque já está saciada. Se deixou mais comida no prato? Umas vezes sim, outras vezes não. Mas é o apetite dela. E é meu dever respeitá-lo. Mesmo quando por vezes há uma vozinha no meu sub-consciente que me diz: “Será que ela não comia mais uma colherzinha?”. É natural, são preocupações comuns a todas nós. Penso que elas nos acompanham sempre, em maior ou menor grau.
Como refere o Dr Berry Brazelton, “forçar uma criança a comer é o modo mais eficaz para criar um problema. Para que a alimentação represente um prazer para a criança, é necessário que seja ela a controlá-la – no que diz respeito a opções, a recusas e ao momento de parar de comer” (fonte: “O grande livro da criança”).
E, por último, deixo-vos uma deliciosa receita prescrita pelo Dr Mário Cordeiro, n’ “O grande livro do bebé” sobre a hora da refeição:
“- 200 grs de bom senso
- 200 grs de calma
- conselhos do médico ou de alguém experiente – um naco pequeno
- ausência de qualquer pitada de ansiedade
- 100 grs de divertimento
- alegria q.b.
- flexibilidade – um pacotinho
- determinação – nas mesmas quantidades que o ingrediente anterior
- afecto – q.b.”
Bom apetite!
Beijinhos,
Sofia
Pamela Cytrynbaum, uma mãe como todas nós, com vitórias e receios, escreve no portal Psychology Today (http://www.psychologytoday.com/blog/because-im-the-mom) sobre a Tirania do Prato Limpo. Isto é, sobre a quase-obsessão de alguns pais em que os filhos comam tudo o que está no prato. Mesmo que não lhes apeteça. Mesmo que, para comerem tudo, haja caras feias à mesa.
Eis um excerto de uma carta que esta mãe juntou à lancheira de Leah, a sua filha:
“Caro (professor, auxiliar, alguém com conhecimento de causa): obrigada por cuidarem tão bem da Leah. Aqui está o seu lanche. A regra em nossa casa é a de que é a Leah quem decide quanto é que ela quer comer. Hoje a Leah disse-me que ao lanche lhe pediram para ela comer tudo o que estava na lancheira. Ora, tendo em conta os estudos mais recentes sobre os hábitos alimentares saudáveis nas crianças, nós queremos que a Leah ouça o seu corpo e decida quando parar quando estiver saciada. Forçá-la a comer é algo que nós não aceitamos. Se ela regressar a casa com uma lancheira meia cheia, tudo bem, não há qualquer problema.
Obrigada por nos ajudarem a garantir uma Leah saudável e feliz!
Mãe da Leah.”
Pessoalmente, tive oportunidade de ler os conhecimentos de dois pediatras que eu considero excepcionais: o Dr Berry Brazelton, nos EUA, e o Dr Mário Cordeiro, em Portugal. Mesmo antes da Joana nascer interiorizei a ideia de que as crianças não devem ser forçadas a comer, mesmo que nós pensemos que elas pouco ou nada comeram. Porquê? Porque o forçar vai necessariamente conduzir a caras feias. A um clima de refeição tenso, nada agradável. E o que é que sucederá nas refeições subsequentes? A criança irá encará-las como momentos negativos e, aí sim, irá oscilar entre dois extremos: ou continua a comer pouco (porque, simplesmente, o ambiente à mesa não propicia ou apetite) ou então vai comer para além do seu apetite, receando represálias
por parte dos pais, os seus modelos educativos por excelência. Num oposto ou noutro, a criança irá celebrar um casamento pouco saudável com a comida. E que frutos nascerão desse casamento no futuro? Distúrbios alimentares (anorexia, bulimia, obesidade infantil). Ausência de auto-estima (“Só gostarão de mim se eu comer tudo...”). Como diz a mãe da Leah, a comida não é moeda de troca. Nem a palavra “dieta” significa restrição. Dieta significa “o que cada um come”, na proporção saudável versus não saudável.
Qualquer pai (leia-se pai e mãe) se preocupa quando o filho deixa mais comida no prato do que é habitual. Quando nota que o filho tem pouco apetite. Seja porque está doente, porque foi às vacinas, porque lhe está a nascer um dente, ou por qualquer outra razão. Tendemos a associar o apetite a algo positivo (“Ele comeu muito bem!”) e não negativo (“Ele hoje não está a comer nada...assim não pode ser...”). Precisamente por isso raramente nos questionamos: “Se o nosso filho comeu menos naquele dia é porque, pura e simplesmente, já estava saciado”.
O facto de, durante a gravidez da Joana, ter lido em inúmeras fontes de que a criança não deverá ser forçada a comer não quer dizer que eu não vacilasse. Claro que sim. Claro que houve momentos em que quis que a Joana comesse mais. Nomeadamente quando, aos nove meses, ela teve uma gastroenterite. A recuperação foi lenta mas a pediatra alertou-me para respeitar o ritmo dela. Caso contrário o seu estômago rejeitaria a porção que estivesse a mais. Umas vezes seguia à risca o que a pediatra me dizia. “Sim, apenas 60ml de leite”. Mas, por vezes, não resistia e tentava mais: “Vou tentar os 90ml, talvez...”. E a Joana vomitava...tinha que regressar à estaca zero. Começar de novo. Sem “experiências”. Degrau a degrau. Penso que esta é a melhor contra-prova que ilustra a Tirania do Prato Limpo e que, no fundo, mais me ensinou sobre a alimentação infantil e o saber respeitar o apetite individual. Mais tarde, quando a Joana começou a frequentar a creche e diminuiu de percentil no peso, resolvi fazer eu mesma as refeições dela em casa para ela levar. Durante poucos meses assim foi. Até ela recuperar o seu peso. A partir daqui, sei que quando a Joana me diz “Iá tá” ou “Naum” quando já não quer comer mais, é porque já está saciada. Se deixou mais comida no prato? Umas vezes sim, outras vezes não. Mas é o apetite dela. E é meu dever respeitá-lo. Mesmo quando por vezes há uma vozinha no meu sub-consciente que me diz: “Será que ela não comia mais uma colherzinha?”. É natural, são preocupações comuns a todas nós. Penso que elas nos acompanham sempre, em maior ou menor grau.
Como refere o Dr Berry Brazelton, “forçar uma criança a comer é o modo mais eficaz para criar um problema. Para que a alimentação represente um prazer para a criança, é necessário que seja ela a controlá-la – no que diz respeito a opções, a recusas e ao momento de parar de comer” (fonte: “O grande livro da criança”).
E, por último, deixo-vos uma deliciosa receita prescrita pelo Dr Mário Cordeiro, n’ “O grande livro do bebé” sobre a hora da refeição:
“- 200 grs de bom senso
- 200 grs de calma
- conselhos do médico ou de alguém experiente – um naco pequeno
- ausência de qualquer pitada de ansiedade
- 100 grs de divertimento
- alegria q.b.
- flexibilidade – um pacotinho
- determinação – nas mesmas quantidades que o ingrediente anterior
- afecto – q.b.”
Bom apetite!
Beijinhos,
Sofia
Comentar