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Hoje é proibido brincar!

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  • Hoje é proibido brincar!

    "A partir de hoje é proibido brincar na minha escola".

    Foi assim que tudo começou. Ao chegar junto dos pais, trazia a notícia de que, pelo facto de os colegas brigarem por causa de determinados brinquedos, os adultos proibiram as crianças de levarem brinquedos para a escola. Tudo porque alguns pais manifestaram junto da instituição que algumas crianças faziam trocas de brinquedos entre si ou simplesmente os perdiam, brinquedos estes que, nalguns casos, não são de todo baratos, manifestando-se os pais desgostosos pelo dinheiro investido. Ou, ainda, pelo facto de os mais velhos, beneficiando do estatuto da idade, conseguirem ganhar indevidamente alguns destes brinquedos aos mais novos.

    Todo o problema reside possivelmente aqui: se os pais compram aos filhos algo que não querem que possa desaparecer, talvez devam ser eles próprios a decidir em casa se permitem ou não que os filhos os levem para a escola, não depositando nesta a responsabilidade pelo brinquedo.

    A escola, assoberbada com numerosos papéis e responsabilidades, adopta a solução mais fácil, proibindo a entrada dos brinquedos problemáticos.

    Erro crasso. Quanto a mim, a escola falha nesta decisão. Sendo ela o local por excelência de socialização, troca, partilha, interacção, cooperação e negociação, é entre os seus pares que as crianças aprendem a ceder, a negociar, e é partilhando com os outros que a criança aprende a viver em sociedade.

    Ficando o brinquedo em casa, o problema pode aparentemente ficar resolvido, mas retira-se às crianças a possibilidade de partilhar algo que é seu, de o mostrar, de fazer amigos com base num interesse comum, de introduzir brinquedos e brincadeiras diferentes das proporcionadas pela escola/jardim-de-infância.

    Naturalmente, estes brinquedos podem também ser motivo de conflito, de birras, mas por isso mesmo são também uma oportunidade para negociar, dialogar, ser solidário, ser amigo e companheiro.

    Imagine-se um jardim-de-infância onde existe uma caixa para os brinquedos trazidos de casa, local onde as crianças, ao chegar, colocam o brinquedo, para o retirarem somente no final do dia, para não haver discussões e brigas, não se valorizando o que a criança trouxe de casa, que lhe transmite segurança e que, de certo modo, a fará sentir-se feliz se for compartilhado pelo grupo de que faz parte, por mostrar ao outro o que é seu. È certo que existem outras possibilidades de brincadeiras na escola, mas proibir usar o que é de cada um é quase uma forma de decretar o fim das brincadeiras entre pares, é afirmar que é proibido brincar!

    É em grupo que se constrói a noção de pertença. Quem não se lembra do jogo da carica ou dos berlindes, onde se negociava a troca e a partilha?

    É necessário existir conflito para se encontrarem soluções. A escola/jardim-de-infância é um agente educativo e precisa de demonstrar aos pais que não é demitindo-se destes conflitos que ajuda as crianças a crescer num ambiente democrático e de aprendizagem de cidadania.

    Deste modo, ao evitar os conflitos, estamos a impedi-las de crescer, de se tornarem capazes de resolver os seus problemas pelos seus meios, com os seus pares, por si próprias, utilizando a vontade própria, sendo livres dos seus actos. Até porque a liberdade é isso mesmo, no querer, na vontade! No desejo de querer escolher a forma de estar com o outro e atento ao outro.

    Cabe ao adulto educador/professor proporcionar espaço de relação e de expressão, onde exista o intercâmbio de dar e receber.

    Tudo o que se pode oferecer simplesmente desfrutando a vida entre pessoas.

    Uma das competências do ser humano é a aptidão natural para estar em relação, uma espécie de estado de permuta em que cada um se define e se compara em relação com o outro. Este processo é inconsciente e automático, mas pode ser mais deliberado quando se reflecte sobre os sentidos implícitos dos relacionamentos. Uma questão ética, onde se deve desejar que a relação com os outros assente na liberdade e no respeito mútuo.

    Citando Savater em Ética para um Jovem: "Não quero prazeres que me permitam fugir da vida, mas prazeres que ma tornem mais intensamente agradável."

    Felizmente, algumas destas crianças, como a deste relato, manifestaram em casa o seu desagrado, e em família abordaram-se as várias alternativas de diálogo para a resolução do problema. No dia seguinte, algumas dessas crianças confrontaram os seus colegas e professores sobre a referida proibição, manifestaram a sua opinião e reclamando os seus direitos. Foram ouvidos e delinearam-se estratégias: definiram-se espaços para brincar com esses brinquedos e quais as regras da sua utilização.

    Educar é, fundamentalmente, aproveitar as forças individuais para as viver em partilha. Só deste modo estaremos a educar em plena harmonia e a dar à escola o seu verdadeiro papel de agente educativo.



    in
    Cadernos de Educação de Infância nº 90 - Agosto 2010

  • #2
    Obrigada por nos trazeres este texto.
    Adorei lê-lo. Talvez por hesitar sempre quando a minha filha me pede para levar brinquedos para a escolinha.
    Por ter receio que se percam ou que se estraguem, mas ela acaba sempre por me convencer quando me diz que quer mostrá-los e partilhá-los com os coleguinhas. E, tal como diz o texto, acho isso muito educativo e muito saudável entre crianças.
    Mas as professoras/educadores/auxiliares nem sempre pensam assim...

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    • #3
      No JE do meu filho têm o chamado dia do brinquedo. Isto é, todas as sextas-feiras podem levar de casa os brinquedos que quiserem para partilhar com os amigos. Nos restantes dias da semana apenas estão autorizados a levar livros ou dvd.

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      • #4
        Inserido Inicialmente por morabeza Ver Mensagem
        No JE do meu filho têm o chamado dia do brinquedo. Isto é, todas as sextas-feiras podem levar de casa os brinquedos que quiserem para partilhar com os amigos. Nos restantes dias da semana apenas estão autorizados a levar livros ou dvd.
        Engraçado.. por acaso na escola do meu tb é assim!!! ;( Não será a mesma :P

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        • #5
          Na escolinha da joana podem levar sp os brinquedos, é claro q parte dos pais o bom-senso de saber q à certos brinquedos q n se devem deixar levar. Por outro lado, os pais tb tem q perceber q ao deixar as crianças levarem os brinquedos estão sujeitos a q n voltem. N vejo gd drama na questão, mas sei de alguns infantários q n deixam mm levar e outros q têm essa caixa da partilha q, à 1ª vista, me parece ser uma boa ideia

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          • #6
            Texto interessante!

            Mas acho que o título não faz sentido: se não levarem brinquedos de casa, não podem brincar????

            A partir de uma certa idade, os brinquedos levados de casa fomentam tudo menos "o intercâmbio de dar e receber" - falo de consolas de jogos, por exemplo, objectos que crianças do pré-escolar muitas vezes já possuem.

            Por outro lado, acho que esta passagem "não se valorizando o que a criança trouxe de casa, que lhe transmite segurança" só pode ter sido escrita por alguém que não contacta com crianças pequenas: a noção de partilha é-lhes ensinada (imposta) pelos pais e outros educadores, não é inata e, por isso, dificilmente lhe dará segurança; antes pelo contrário, ter que abandonar num espaço comum e ser obrigada a partilhar um brinquedo especial que trouxe de casa pode provavelmente ser motivo de grande stress, gerando discussões.




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            • #7
              Bonito texto. Bonita a noção de partilha, socialização, etc...
              Mas para brincar é necessário levar brinquedos de casa?

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              • #8
                Inserido Inicialmente por IN_AND_OUT Ver Mensagem
                Bonito texto. Bonita a noção de partilha, socialização, etc...
                Mas para brincar é necessário levar brinquedos de casa?

                Pois, necessário de facto não é. A minha filha com 4 anos sabe perfeitamente que há brinquedos que pode levar (um peluche ou outro com que por vezes dorme e em dias em que a birrice atrasa mais a rotina matinal) e outros que são para ficar em casa.
                Dias há em que quer levar 'tudo' para mostrar aos amigos,mas aí entram os pais que, não são os seus pares, os seus amigos nem melhores amigos, mas sim seus educandos, para explicar o porquê de certas coisas não saírem de casa para a escola.
                Como em tudo, a educação começa em casa, e se há pais que não têm voz para dizer a um filho que pode ou não levar isto ou aquilo para a escola, dificilmente terão voz mais tarde para implantarem regras,boa educação ou qualquer educação de todo na criança. Não podemos apontar o dedo às escolas e pronto. A nossa permissividade enquanto pais é que modela as medidas e qualidade do ensino que hoje grassam no nosso país.
                Não podemos esperar que a escola eduque e pronto. O trabalho de casa deve ser igualmente feito e desde o berço, a começar nos brinquedos, ou a terminar nos estudos. Como queiram.

                bjs



                Years shall run like rabbits... luv ya babyluv

                Love should heal all wounds... not just time alone.

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                • #9
                  Eu suponho que um brinquedo seja entendido, sobretudo na 1ª infância, como aquilo que os psicologos chamam de objecto securizante: algo que por pertencer ao seu universo familiar e exclusivo, ser de estima ou predilecção, os tranquiliza. Uma espécie de não vou para a escola sozinho!

                  Por outro lado, um brinquedo seja ele qual for é um elemento de individualização (sim mesmo que 350 crianças tenham o mesmo, igualzinho sem tirar nem pôr!). Mais tarde os adolescentes substituem-nos pela maneira de vestir e música que ouvem, hobbies, por exemplo.

                  E sim, o título não é meu, é da autora do texto, e também concordo que é possível brincar mesmo sem levar brinquedos de casa e até mesmo sem brinquedos nenhuns!!!

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