Olá mamãs,
Antes de mais felicito a ideia de criarem este novo tópico para a partilha de experiencias.
Assim sendo gostaria de deixar aqui um testemunho que, graças a Deus não e meu, mas de uma pessoa amiga que acompanhei de perto e com o qual aprendi e me sensibilizei bastante.
Há cerca de 1 ano a B. engravidou acidentalmente ( será q podemos dizer isto quando existe tanta informação?, mas avancemos...). Quando me contou fiquei mto feliz por ela mas tb um pouco apreensiva pois sabia bem a vida que ela levava com o companheiro, uma relação q tinha os dias contados... quando me disse q tinha decidido interromper a gravidez fiquei chocada. Não podia ser.Não ela!! aquela pessoa que tinha discutido fervorosamente pela NÃO liberalização do aborto ao meu lado contra todos os nossos amigos e familiares q eram a favor do Sim... E agora ia fazer algo contra natura, contra as suas crenças e tão horrivel...Como podia ser? Fiquei em pânico. Esperava-se q eu como amiga a apoiasse... mas eu estava a tentar engravidar na altura, andavamuito sensivel a tudo isto e ela diz-me aquilo?? O certo é q ela tb estava em pânico e chorava so c a ideia do que iria fazer. Teneti dissuadi-la de várias formas mas infelizmente não consegui. Era uma decisão que ja estava tomada. So me restavam duas alternativas: deixa-la sozinha c a cruz de passar por tudo sozinha e ir viver a minha vidinha para longe, ou ajuda-la na concretizãção da sua decisão.
Foi a coisa mais triste e dificil que eu fiz, quando fui c ela ao hospital marcar a IVG. Não abri a boca para lhe dar força so lhe segurei na mão e sentia-me, tal como ela, assustada e muito triste. No hopsital fomos encaminhadas para a area de obstetricia e foi ai que eu comecei a notar os olhares. Quando as enfermeiras passavam por nos olhavam-na de canto e sempre que viam a carta (passada pela GO dela para a IVG) respondiam-lhe de forma seca e arrogante. Nunca pensei ver tanta frieza e desrespeito num hospital publico. Apos umas 2 horas de espera a medica (unica medica que não era objectora de consciencia e que poderia fazer a IVG nessa cidade e nas vizinhas) recusou-se a atende-la porque "tinha mtas gravidas e tinhas de as despachar porque tinha férias marcadas para dai a uns dias". Conclusão mandaram-na para casa como quem diz "desenrrasque-se". O tempo passava... os dias passavam e a angustia crescia cada vez mais. Se ela esperasse q a medica viesse de ferias em vez de 4 ou 5 semanas ja teria 7 ou 8... então decidiu procurar ajuda noutro hospital publico e apos vários telefonemas conseguiu uma consulta num H.p. a 50 km da cidade onde vivemos. Mais uma vez la fui eu com ela segurar-lhe na mão. Não conseguia dar-lhe mais apoio que isso, embora me magoasse imenso ver como tratam as pessoas nessas situações nos Hospitais do nosso pais...enxotam-nas como moscas.
Finalmente nesse Hospital foi decentemente atendida e explicaram-lhe bem as consequencias da sua decisão. Deram-lhe uns dias para pensar e marcaram uma 2.º consulta.
Não a acompanhei nessa 2.ª consulta, nem na 3.ª nem na ultima... não consegui.
Mas sei que a apoiei na altura mais dificil. No 1.º passo, na decisão. Apesar de so lhe ter segurado na mão e lhe ter emprestado o meu ombro para chorar. Nunca pensei q uma mulher que fizesse um aborto pudesse sofrer tanto. Mas sofrem. Sou contra a IVG, mas sou a favor da mulher, do respeito pelo proximo e da humanização. E nunca pensei ver tanta discriminação neste campo por profissonais da saude q supostamente deviam ajudar, serem simpaticos e atenciosos. Ninguem faz um aborto porque gosta.
E eu, que era uma fundamentalista, aprendi essa lição.
Mais tarde ela contou-me que passou terrores fisicamente... teve de fazer uma raspagem e ainda por cima a parteira passava o tempo todo a rir-se e a dizer "ah para a proxima ja sabe, em vez de um ponha meia duzia de preservativos!!" No fim, deram-lhe uma pancadinha na perna e disseram-lhe "já esta". Como quem vai á esteticista... Sem um miminho, sem uma palavra mais doce... " ja está".
Isto chocou-me ainda mais. A B. esteve meses sem sair, sem rir, sem alegria. Perdeu peso, andava cabisbaixa, não sorria. Estava apática. Parecia uma morta viva. Eu não reconhecia a minha amiga.
O mais curioso, nesta altura eu engravidei. Está agora a fazer 1 ano. E sei o q ela pensa quando ve a minha filhota, vejo-lhe mtas vezes uma nuvem no olhar, uma dor profunda, que logo se vai atenuando. Ela agora está bem. Mas nunca mais foi igual. Nunca mais foi a mesma pessoa.
Agora, se tiveram paciencia para lerem ate ao fim, digam-me: não acham que um pais que aprova uma lei destas por maioria devia ter profissionais mais sensiveis e humanos?
Assim se calhar evitavam algumas desgraças.
Antes de mais felicito a ideia de criarem este novo tópico para a partilha de experiencias.
Assim sendo gostaria de deixar aqui um testemunho que, graças a Deus não e meu, mas de uma pessoa amiga que acompanhei de perto e com o qual aprendi e me sensibilizei bastante.
Há cerca de 1 ano a B. engravidou acidentalmente ( será q podemos dizer isto quando existe tanta informação?, mas avancemos...). Quando me contou fiquei mto feliz por ela mas tb um pouco apreensiva pois sabia bem a vida que ela levava com o companheiro, uma relação q tinha os dias contados... quando me disse q tinha decidido interromper a gravidez fiquei chocada. Não podia ser.Não ela!! aquela pessoa que tinha discutido fervorosamente pela NÃO liberalização do aborto ao meu lado contra todos os nossos amigos e familiares q eram a favor do Sim... E agora ia fazer algo contra natura, contra as suas crenças e tão horrivel...Como podia ser? Fiquei em pânico. Esperava-se q eu como amiga a apoiasse... mas eu estava a tentar engravidar na altura, andavamuito sensivel a tudo isto e ela diz-me aquilo?? O certo é q ela tb estava em pânico e chorava so c a ideia do que iria fazer. Teneti dissuadi-la de várias formas mas infelizmente não consegui. Era uma decisão que ja estava tomada. So me restavam duas alternativas: deixa-la sozinha c a cruz de passar por tudo sozinha e ir viver a minha vidinha para longe, ou ajuda-la na concretizãção da sua decisão.
Foi a coisa mais triste e dificil que eu fiz, quando fui c ela ao hospital marcar a IVG. Não abri a boca para lhe dar força so lhe segurei na mão e sentia-me, tal como ela, assustada e muito triste. No hopsital fomos encaminhadas para a area de obstetricia e foi ai que eu comecei a notar os olhares. Quando as enfermeiras passavam por nos olhavam-na de canto e sempre que viam a carta (passada pela GO dela para a IVG) respondiam-lhe de forma seca e arrogante. Nunca pensei ver tanta frieza e desrespeito num hospital publico. Apos umas 2 horas de espera a medica (unica medica que não era objectora de consciencia e que poderia fazer a IVG nessa cidade e nas vizinhas) recusou-se a atende-la porque "tinha mtas gravidas e tinhas de as despachar porque tinha férias marcadas para dai a uns dias". Conclusão mandaram-na para casa como quem diz "desenrrasque-se". O tempo passava... os dias passavam e a angustia crescia cada vez mais. Se ela esperasse q a medica viesse de ferias em vez de 4 ou 5 semanas ja teria 7 ou 8... então decidiu procurar ajuda noutro hospital publico e apos vários telefonemas conseguiu uma consulta num H.p. a 50 km da cidade onde vivemos. Mais uma vez la fui eu com ela segurar-lhe na mão. Não conseguia dar-lhe mais apoio que isso, embora me magoasse imenso ver como tratam as pessoas nessas situações nos Hospitais do nosso pais...enxotam-nas como moscas.
Finalmente nesse Hospital foi decentemente atendida e explicaram-lhe bem as consequencias da sua decisão. Deram-lhe uns dias para pensar e marcaram uma 2.º consulta.
Não a acompanhei nessa 2.ª consulta, nem na 3.ª nem na ultima... não consegui.
Mas sei que a apoiei na altura mais dificil. No 1.º passo, na decisão. Apesar de so lhe ter segurado na mão e lhe ter emprestado o meu ombro para chorar. Nunca pensei q uma mulher que fizesse um aborto pudesse sofrer tanto. Mas sofrem. Sou contra a IVG, mas sou a favor da mulher, do respeito pelo proximo e da humanização. E nunca pensei ver tanta discriminação neste campo por profissonais da saude q supostamente deviam ajudar, serem simpaticos e atenciosos. Ninguem faz um aborto porque gosta.
E eu, que era uma fundamentalista, aprendi essa lição.
Mais tarde ela contou-me que passou terrores fisicamente... teve de fazer uma raspagem e ainda por cima a parteira passava o tempo todo a rir-se e a dizer "ah para a proxima ja sabe, em vez de um ponha meia duzia de preservativos!!" No fim, deram-lhe uma pancadinha na perna e disseram-lhe "já esta". Como quem vai á esteticista... Sem um miminho, sem uma palavra mais doce... " ja está".
Isto chocou-me ainda mais. A B. esteve meses sem sair, sem rir, sem alegria. Perdeu peso, andava cabisbaixa, não sorria. Estava apática. Parecia uma morta viva. Eu não reconhecia a minha amiga.
O mais curioso, nesta altura eu engravidei. Está agora a fazer 1 ano. E sei o q ela pensa quando ve a minha filhota, vejo-lhe mtas vezes uma nuvem no olhar, uma dor profunda, que logo se vai atenuando. Ela agora está bem. Mas nunca mais foi igual. Nunca mais foi a mesma pessoa.
Agora, se tiveram paciencia para lerem ate ao fim, digam-me: não acham que um pais que aprova uma lei destas por maioria devia ter profissionais mais sensiveis e humanos?
Assim se calhar evitavam algumas desgraças.
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