E se fosse contigo? E se fosse com o teu filho ou com a tua filha?
Era uma vez uma mãe que trabalhava a recibos verdes. Era uma vez uma mãe que não arranjava vaga para a sua filha em nenhuma creche que conseguisse pagar. Era uma vez uma mãe que durante um ano inteiro levou a filha consigo para o trabalho.
Assisti a tudo: a aprender a gatinhar, a bater palminhas, a dizer adeus, as primeiras palavras, aos primeiros passos, mas sempre com o coração de mãe a dizer-me que não era o ambiente adequado a uma criança.
Era uma vez a minha história. Uma amiga que era assistente social disse-me para eu ligar à XXXXXX e explicar que a minha filha estava a crescer no meu posto de trabalho, em vez de crescer com outros meninos, numa escolinha.
Contei a minha história e no dia seguinte recebi um telefonema: a L. tinha sido aceite e ia frequentar a creche. Ia poder brincar o dia todo e ter a atenção que uma criança pequena merece ter (e não tem se a mãe está a trabalhar).
Foi crescendo, feliz, equibrada, estimulada.
Passou para o jardim de infância. Com uma educadora fantástica, cheia de energia, paciência e muito mimo para dar.
Numa reunião foi –me transmitido que iam fazer a experiência de tirar a sesta aos meninos dos 3 anos… na ignorância de mamã de 1ª viagem e pela confiança que tinha na educadora, apesar de torcer o nariz, deixei. Mas vim para casa ler artigos de pediatras, educadoras e pedo-psiquiatras que falavam em ser uma “tortura” tirarem a sesta às crianças. E apercebi-me da gravidade da situação. A maior parte dos pais não estava minimamente preocupado – era óptimo os miúdos estarem já na cama, para se poder ver a telenovela em paz, lá em casa.
Falei com uma jornalista (mãe, também) que ficou horrorizada com a situação e fez uma peça sobre o quanto era importante a hora da sesta e dos benefícios que isso trazia.
Como que por milagre, no final da semana, já os meninos dos 3 anos dormiam todos a sesta, “porque este tipo de atitude não se enquadra na orientação pedagógica do estabelecimento XXXX” – se não se enquadra, para quê a experiência?
Este stress passou e os meninos continuaram a crescer.
O Pai Natal trouxe-lhes um porquinho da índia – que já tivemos o privilégio de ter como visita de fim-de-semana. Construíram laços uns com uns outros, tornaram-se amigos. São 3 anos de convivência diária, de aprendizagem constante e de muita brincadeira.
Na última reunião de pais recebemos a notícia que os meninos que não residem na área do estabelecimento não vão poder frequentar o 2º ano do jardim de infância.
Aleguei tudo e mais alguma coisa na reunião: Se uma criança está perfeitamente integrada a meio de um ciclo de estudos (1º ano do jardim de infância), porquê obriga-la a mudar de estabelecimento, tendo que mudar de hábitos, de educadora, de amigos? Não seria de dar continuidade a todo o trabalho que tem vindo a ser desenvolvido quer pelo pessoal do estabelecimento XXXXX quer pelas nossas crianças (quer a nível educativo, quer a nível comportamental e afectivo), pensar no bem-estar delas e evitar esta mudança?
São ordens superiores (na história da sesta ouvi exactamente este argumento) e não se pode fazer nada contra isso.
Contactei o Ministério da Educação, e a senhora que me atendeu nem queria acreditar. Que tal coisa nunca tinha acontecido, mas que não podia fazer nada – só em relação aos jardins de infância públicos, que defendem a prioridade em relação a crianças que já frequentam o estabelecimento.
Insisti, entreguei a matrícula da L. na mesma, com o comprovativo de que a tinha matriculado noutras escolas, porque assim era exigido.
Também me aconselharam a matriculá-la no estabelecimento XXXX da minha área de residência, que não aceita meninos que completem os 4 anos em 2011, mas também não “expulsam” os que já lá estão e não residem perto.
Escrevi ao órgão máximo da instituição, como mãe, a pedir-lhe, por favor, para ter em atenção o bem-estar destas crianças.
Recebi uma carta de resposta com Decretos-Lei que nunca foram postos em prática, porque se o tivessem sido, a L. nunca teria entrado para aquela creche e depois para o 1º ano do infantário. Tudo em nome da implementação do “Sistema de Gestão de Qualidade”. Que grande qualidade esta. Pensar na continuidade educativa destas crianças em último lugar!
Os amigos e a família tentam dar-me alento “deixa lá, os miúdos adaptam-se!”, mas e se fosse com vocês? Estavam na 3ª classe e quando iam passar para a 4ª obrigavam-vos a mudar de escola, de amigos, de professor? Gostavam? Faz algum sentido? Porque no meio de todas estas histórias quem paga a factura é ela.
Vou ter que pegar na minha filha e “encaixá-la” onde houver vaga… sem poder avaliar as educadoras, as auxiliares, o ambiente em si. Já fiz isso uma vez e correu bem. E se desta vez não correr bem? E quando ela me perguntar pelos amigos? E pelo porquinho da índia? Que respondo eu? Que está na escolinha dos grandes? É que no ano a seguir vai mudar novamente para a pré-primária. Que benefícios poderão trazer estas mudanças todas a seres tão pequeninos? Ao ponto a que cheguei: sou eu a mãe e sinto que não a estou a proteger convenientemente…
Agora só me resta a carta à Segurança Social… e que seja alguém evoluído e humano a lê-la…
Desculpem o testamento, mas estou tão revoltada com esta história...
Era uma vez uma mãe que trabalhava a recibos verdes. Era uma vez uma mãe que não arranjava vaga para a sua filha em nenhuma creche que conseguisse pagar. Era uma vez uma mãe que durante um ano inteiro levou a filha consigo para o trabalho.
Assisti a tudo: a aprender a gatinhar, a bater palminhas, a dizer adeus, as primeiras palavras, aos primeiros passos, mas sempre com o coração de mãe a dizer-me que não era o ambiente adequado a uma criança.
Era uma vez a minha história. Uma amiga que era assistente social disse-me para eu ligar à XXXXXX e explicar que a minha filha estava a crescer no meu posto de trabalho, em vez de crescer com outros meninos, numa escolinha.
Contei a minha história e no dia seguinte recebi um telefonema: a L. tinha sido aceite e ia frequentar a creche. Ia poder brincar o dia todo e ter a atenção que uma criança pequena merece ter (e não tem se a mãe está a trabalhar).
Foi crescendo, feliz, equibrada, estimulada.
Passou para o jardim de infância. Com uma educadora fantástica, cheia de energia, paciência e muito mimo para dar.
Numa reunião foi –me transmitido que iam fazer a experiência de tirar a sesta aos meninos dos 3 anos… na ignorância de mamã de 1ª viagem e pela confiança que tinha na educadora, apesar de torcer o nariz, deixei. Mas vim para casa ler artigos de pediatras, educadoras e pedo-psiquiatras que falavam em ser uma “tortura” tirarem a sesta às crianças. E apercebi-me da gravidade da situação. A maior parte dos pais não estava minimamente preocupado – era óptimo os miúdos estarem já na cama, para se poder ver a telenovela em paz, lá em casa.
Falei com uma jornalista (mãe, também) que ficou horrorizada com a situação e fez uma peça sobre o quanto era importante a hora da sesta e dos benefícios que isso trazia.
Como que por milagre, no final da semana, já os meninos dos 3 anos dormiam todos a sesta, “porque este tipo de atitude não se enquadra na orientação pedagógica do estabelecimento XXXX” – se não se enquadra, para quê a experiência?
Este stress passou e os meninos continuaram a crescer.
O Pai Natal trouxe-lhes um porquinho da índia – que já tivemos o privilégio de ter como visita de fim-de-semana. Construíram laços uns com uns outros, tornaram-se amigos. São 3 anos de convivência diária, de aprendizagem constante e de muita brincadeira.
Na última reunião de pais recebemos a notícia que os meninos que não residem na área do estabelecimento não vão poder frequentar o 2º ano do jardim de infância.
Aleguei tudo e mais alguma coisa na reunião: Se uma criança está perfeitamente integrada a meio de um ciclo de estudos (1º ano do jardim de infância), porquê obriga-la a mudar de estabelecimento, tendo que mudar de hábitos, de educadora, de amigos? Não seria de dar continuidade a todo o trabalho que tem vindo a ser desenvolvido quer pelo pessoal do estabelecimento XXXXX quer pelas nossas crianças (quer a nível educativo, quer a nível comportamental e afectivo), pensar no bem-estar delas e evitar esta mudança?
São ordens superiores (na história da sesta ouvi exactamente este argumento) e não se pode fazer nada contra isso.
Contactei o Ministério da Educação, e a senhora que me atendeu nem queria acreditar. Que tal coisa nunca tinha acontecido, mas que não podia fazer nada – só em relação aos jardins de infância públicos, que defendem a prioridade em relação a crianças que já frequentam o estabelecimento.
Insisti, entreguei a matrícula da L. na mesma, com o comprovativo de que a tinha matriculado noutras escolas, porque assim era exigido.
Também me aconselharam a matriculá-la no estabelecimento XXXX da minha área de residência, que não aceita meninos que completem os 4 anos em 2011, mas também não “expulsam” os que já lá estão e não residem perto.
Escrevi ao órgão máximo da instituição, como mãe, a pedir-lhe, por favor, para ter em atenção o bem-estar destas crianças.
Recebi uma carta de resposta com Decretos-Lei que nunca foram postos em prática, porque se o tivessem sido, a L. nunca teria entrado para aquela creche e depois para o 1º ano do infantário. Tudo em nome da implementação do “Sistema de Gestão de Qualidade”. Que grande qualidade esta. Pensar na continuidade educativa destas crianças em último lugar!
Os amigos e a família tentam dar-me alento “deixa lá, os miúdos adaptam-se!”, mas e se fosse com vocês? Estavam na 3ª classe e quando iam passar para a 4ª obrigavam-vos a mudar de escola, de amigos, de professor? Gostavam? Faz algum sentido? Porque no meio de todas estas histórias quem paga a factura é ela.
Vou ter que pegar na minha filha e “encaixá-la” onde houver vaga… sem poder avaliar as educadoras, as auxiliares, o ambiente em si. Já fiz isso uma vez e correu bem. E se desta vez não correr bem? E quando ela me perguntar pelos amigos? E pelo porquinho da índia? Que respondo eu? Que está na escolinha dos grandes? É que no ano a seguir vai mudar novamente para a pré-primária. Que benefícios poderão trazer estas mudanças todas a seres tão pequeninos? Ao ponto a que cheguei: sou eu a mãe e sinto que não a estou a proteger convenientemente…
Agora só me resta a carta à Segurança Social… e que seja alguém evoluído e humano a lê-la…
Desculpem o testamento, mas estou tão revoltada com esta história...
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